Estados Unidos-China: Líderes se encontraram em junho, durante G20, e acordaram em uma trégua e voltaram a dialogar, mas sem grandes mudanças (Artyom Ivanov / Contributor/Getty Images)
AFP
Publicado em 29 de julho de 2019 às 19h46.
Representantes chineses e americanos irão se reunir esta semana na China para novas negociações comerciais, mas analistas não preveem, contudo, grandes avanços.
As reuniões, previstas para terça e quarta-feira, ocorrem em Xangai e serão as primeiras presenciais desde o fracasso, em maio, das últimas negociações, quando o presidente americano, Donald Trump, acusou Pequim de não cumprir seus compromissos.
Trump decidiu, então, aumentar as tarifas a grande parte dos produtos chineses importados.
A China e os Estados Unidos aplicam, mutuamente, tarifas sobre mais de 360 bilhões de dólares em produtos.
Os líderes dos dois países acordaram uma trégua em junho e voltaram a dialogar, mas desde então não houve grandes avanços.
"A China aborda fundamentalmente esta questão sob um viés puramente econômico e quer simplesmente fechar um acordo", disse à AFP Wang Chuanxing, professor da universidade de Tongji, em Xangai.
Mas os Estados Unidos "tentam juntar os problemas comerciais com uma rivalidade estratégica", explicou.
Trump irritou Pequim em maio quando colocou a gigante tecnológica chinesa Huawei em uma lista suja, argumentando motivos de segurança.
Agora, "o ponto em comum é que as duas partes querem chegar a um acordo. Isso é muito importante", diz Wang.
A retomada do diálogo é considerada um passo na direção certa, e a escolha de Xangai, capital econômica da China, também é simbólica.
"Pode se tratar de uma forma de afastar Xi Jinping e seu entorno das consequências potencialmente negativas das negociações", aponta Michael Pettis, professor de Finanças em Pequim.
O secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, que estará na China com o representante comercial Robert Lighthizer, alertou contudo que ainda restam "diversos problemas" a resolver, em declarações à emissora CNBC.
A China e os Estados Unidos "não estão otimistas" sobre o resultado das novas negociações, indica o analista Larry Ong, da SinoInsider, consultoria especializada em China.
Se fosse o caso de um desfecho certo, as negociações "seriam em Pequim, e não em Xangai", diferencia à AFP.
"É pouco provável que fechem um acordo nesta semana", alerta Shen Dingli, professor de Xangai especializado em relações internacionais.
"Trata-se mais de uma reunião para relançar o processo, do que para chegar a um acordo", alerta Shen.
O jornal em inglês Global Times, considerado próximo ao governo de Pequim, admitiu nesta sexta-feira em um editorial que "as negociações serão longas".
De acordo com alguns observadores, a China pode ampliar de propósito as negociações até as próximas eleições americanas de 2020, na esperança de encontrar um presidente mais disposto a negociar que Trump.
Do lado chinês, a delegação negociadora será novamente liderada pelo vice-primeiro-ministro Liu He, próximo ao presidente Xi Jinping.
Mas o ministro chinês de Comércio, Zhong Shan, considerado mais rigoroso, pode ter um papel mais significativo.
Para Wang Chuanxing, trata-se de "uma pessoa muito competente", mas que pode ter "palavras duras" na negociação.
A guerra comercial entre China e Estados Unidos já está afetando suas economistas. O crescimento chinês desacelerou no segundo trimestre (+6,2%), seu nível mais baixo em pelo menos 27 anos.
Já os agricultores americanos - um dos principais grupos de apoio eleitoral de Trump - queixam-se da queda de suas exportações devido às tensões comerciais com a China.
Após o fracasso das negociações em maio, a China e os Estados Unidos "agora entendem que nenhum dos dois pode ganhar do outro", segundo Shen Dingli.