Candidatos a emprego fazem fila do lado de fora de um escritório regional de empregos em Barcelona, Espanha, na quarta-feira, 12 de agosto de 2020. (Angel Garcia/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 18 de agosto de 2020 às 09h59.
Última atualização em 18 de agosto de 2020 às 19h32.
O alívio que veio com a aceleração da atividade econômica na Europa com o término do isolamento social está dando lugar a outra onda de desânimo, com sinais de que uma recuperação plena permanece longínqua.
As esperanças em uma retomada em forma de V foram frustradas por indicadores e dados de alta frequência que mostram uma freada significativa da atividade ou mesmo estagnação abaixo dos níveis pré-crise.
A principal preocupação é que alguns países sejam forçados a impor novamente as medidas de isolamento que paralisaram suas economias. As taxas de contágio pelo coronavírus estão aumentando em todo o continente à medida que as pessoas aproveitam a temporada de férias para viajar e encontrar amigos e familiares.
“A produção aumentou à medida que os bloqueios foram suspensos, mas a recuperação da Europa parece ter parado em 5% a 10% abaixo do normal. Regras de distanciamento social, cautela dos consumidores e a demanda externa rebaixaram o teto para a economia. Infelizmente, mesmo esse ritmo contido de atividade pode ser incompatível com a manutenção do vírus sob controle, diz Jamie Rush, economista-chefe de Europa da Bloomberg Economics.
Embora estejam circulando mais, as pessoas não estão comprando nem comendo fora como antes da crise. E o abalo para a indústria do turismo deve piorar se os países voltarem a impor restrições, como quarentenas.
Para muita gente, o pior da crise econômica ainda está por vir. Os mercados de trabalho têm sido amplamente protegidos por programas de licença e empréstimos governamentais. Quando esse suporte for retirado gradualmente, a expectativa é de aumento significativo do desemprego, causando outro choque na demanda.
Há sinais de alerta. Na área do euro, 4,9 milhões de empregos foram eliminados no primeiro semestre, quase metade do número de postos criados desde a última recessão. A perspectiva de mais demissões prejudica a confiança, levando consumidores a poupar em vez de gastar.
As economias do bloco monetário provavelmente apresentarão taxas impressionantes de crescimento no terceiro trimestre, mas não o suficiente para compensar o tombo passado.
Mesmo na Alemanha, onde o número de mortes causadas pelo vírus foi menor e a crise econômica mais superficial, não se espera que a produção volte aos níveis anteriores à crise no próximo ano.
“A economia provavelmente terá uma recuperação consideravelmente mais lenta do que o ritmo em que encolheu”, afirmou o relatório mensal do Bundesbank, publicado na segunda-feira, argumentando que a incerteza em torno de novas infecções está prejudicando as exportações e os investimentos corporativos. “Isso deve atrapalhar uma recuperação mais ampla na demanda por bens industriais alemães.”
Até que uma “solução médica eficaz” esteja disponível, “a atividade econômica permanecerá limitada também em algumas partes do setor de serviços”, declarou o banco central alemão. Isso significa que, em vez de uma recuperação em forma de V, a perspectiva econômica da Europa lembra a uma asa de pássaro, expressão que o Banco da França usou em suas previsões. A perspectiva se aplica a todos os setores, embora alguns estejam se saindo pior do que outros.
(Com a colaboração de Harumi Ichikura, Ainhoa Goyeneche e Jana Randow)