Economia

Nova lei de retomada de carros pode ajudar setor

O possível aumento da concessão de crédito deverá compensar a volta da alíquota cheia do IPI para automóveis a partir de 1º de janeiro de 2015


	Montadora de automóveis em Minas Gerais: setor ensaia recuperação
 (Germano Lüders/EXAME)

Montadora de automóveis em Minas Gerais: setor ensaia recuperação (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 27 de dezembro de 2014 às 08h24.

São Paulo - Após um 2014 de quedas acentuadas nas vendas, produção e exportações, o setor automotivo brasileiro ainda deve amargar alguns efeitos da crise durante 2015, mas poderá começar a ensaiar uma recuperação. Apesar de terem graus de otimismo diferentes sobre quando essa retomada de fato vai se firmar, tanto dirigentes de montadoras quanto de associações representativas do setor contam com a nova legislação que facilita a retomada do bem como principal aliada nesse processo. O amparo legal, na visão do setor, deverá ajudar a aquecer as vendas no mercado interno, compensando perdas de um ajuste fiscal prometido pelo governo, como o fim da redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Indústria (IPI).

Pelo lado das vendas externas, o setor pretende ampliar acordos comerciais para minorar prejuízos da crise na Argentina, principal destino das exportações brasileiras de automóveis. "Em 2015, não ocorrerão fatores de restrição que tivemos em 2014, como os feriados no primeiro semestre, o clima negativo de confiança na economia e a Copa do Mundo, que acabou desviando a atenção do comércio e das vendas", afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, ao justificar o otimismo na previsão de uma retomada do setor já em 2015, diferente da maioria dos presidentes de montadoras, que acreditam em uma recuperação somente a partir de 2016.

Moan defende que, se o ritmo do segundo semestre deste ano for mantido, "fecharemos 2015 com números bastante positivos contra 2014". Até novembro, contudo, produção, vendas e exportações acumulam quedas de 15,5%, 8,4% e 29,9%, respectivamente.

Para Moan, a nova lei que poderá diminuir de um ano para até dois meses o processo de retomada de bens com atraso em financiamento será o "grande trunfo" para o setor automotivo, principalmente a partir de 2015. A legislação entrou em vigor em novembro. O presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Flavio Meneghetti, prevê com isso que os bancos aumentem o apetite por riscos novamente e baixem o nível de restrições atuais para a oferta de financiamento de veículos. A expectativa dele é de que o volume de aprovação de contratos deverá aumentar até 20%, o que poderá representar aproximadamente 30 mil veículos financiados por mês.

O possível aumento da concessão de crédito deverá compensar a volta da alíquota cheia do IPI para automóveis a partir de 1º de janeiro de 2015. Embora nos bastidores especule-se que o imposto poderá ser recomposto de forma gradual, o presidente da Anfavea diz que o governo tem reafirmado que vai subir a alíquota mínima para carros motor 1.0 dos atuais 3% para 7%, o que levará a um reajuste de até 4,5% no preço de carros populares. Com as dificuldades do mercado, o setor tem cobrado a volta do IPI zerado, apesar de reconhecer que isso é difícil diante do ajuste fiscal prometido pelo governo para 2015. "Espero que continue o IPI, mas estamos nos organizando para o aumento da alíquota a partir do próximo ano", diz o vice-presidente da Ford América do Sul, Rogelio Golfarb.

Apesar de negar que a volta da alíquota cheia do IPI será compensada por outro benefício, o presidente da Anfavea pondera que o setor deverá continuar sendo ajudado pelo governo, mesmo com o discurso de ajuste fiscal. Segundo ele, independentemente do comandante da equipe econômica, o peso específico do setor facilitaria o diálogo. "Somos quase um quarto do PIB do País", disse Moan, comentando que a associação aguarda resposta de um pedido de encontro com os novos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa. "É aquela coisa: você vai matar a galinha dos ovos de ouro ou pegar os ovos?", brinca.

Acordos comerciais

A assinatura de novos acordos comerciais também é outra aposta do setor para engatilhar uma recuperação. Hoje, a Anfavea negocia acordos de livre comércio com a Colômbia e com o México. Durante 2014, a associação participou de vários encontros com entidades do setor desses países. De acordo com Moan, o objetivo é apresentar propostas concretas para o governo brasileiro até o fim de 2015, para que os acordos sejam fechados com os outros governos, e, com isso, diminuir a dependência em relação à Argentina, destino de quatro em cada cinco carros exportados pelo Brasil. Ainda no próximo ano, a Anfavea deve começar a negociar também com o Uruguai.

Com o estímulo às vendas, o setor tenta limpar os altos estoques e, com isso, retomar um ritmo maior nas fábricas. Mesmo com a produção em queda durante o ano, em novembro ainda havia 414,3 mil unidades encalhadas nas fábricas e concessionárias do Brasil, o equivalente a 42 dias de espera. Por conta disso, nunca tantas montadoras recorreram a lay-offs (suspensão temporária de contratos de trabalho), férias coletivas e programas de demissão voluntária que, neste ano, foram adotados em quase todos os meses, em uma espécie de rodízio entre a maioria das empresas para driblar a ociosidade das fábricas. Com isso, até novembro, o número de empregos no setor acumula queda de 7,9% ante mesmo período do ano passado, segundo a Anfavea.

Com a possibilidade de retomada do setor somente a partir de 2016, a associação está apoiando a negociação entre centrais sindicais e o governo para aumentar os períodos de lay-off, dos atuais cinco meses para até dois anos. Já as montadoras estão trocando os habituais aumentos salariais acima da inflação por abonos (benefícios não incorporados aos salários). Em alguns casos, empresas estão colocando em votação proposta de redução da jornada de trabalhado acompanhada da redução de salários, medida não adotada no setor há anos. Em São Bernardo do Campo, onde atua o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, considerado um dos mais combatentes do país, por exemplo, foi fechado um acordo na Mercedes-Benz que prevê quatro anos seguidos sem aumento real.

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