Economia

"Nós vamos ter saudades de 2015”, diz Marcos Lisboa

"É muito profissionalismo pra conseguir um estrago assim", diz o ex-secretário de Política Econômica de Lula, que ainda não vê porta de saída da recessão


	Marcos Lisboa, diretor do Insper e ex-secretário de Política Econômica do governo Lula
 (Reprodução/YouTube/Reprodução)

Marcos Lisboa, diretor do Insper e ex-secretário de Política Econômica do governo Lula (Reprodução/YouTube/Reprodução)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 23 de fevereiro de 2016 às 16h48.

São Paulo - Marcos Lisboa, diretor do Insper, acredita que a recessão "ainda não tem porta de saída" e que o brasileiro vai sentir saudades de 2015.

"4% de recessão é muito raro na história do mundo. Dois anos seguidos, mais raro ainda. Com inflação de 10%, então... é muito profissionalismo pra conseguir um estrago assim", disse hoje no evento "Rumo da Economia" em São Paulo.

Por profissionalismo, Lisboa se refere a várias decisões de política econômica do pós-2008 - de proteção comercial, expansão do crédito e benefícios para o desenvolvimento de indústrias selecionadas, como a naval.

Só em subsídios do BNDES serão pagos pelo contribuinte R$ 323 bilhões até 2060 (o valor inclui apenas a diferença entre o juro pelo qual o dinheiro foi tomado pelo governo e pelo qual foi emprestado para o setor privado).

"Quando você faz alguma coisa, você deixa de fazer outra, e isso tem que fazer sentido em escala mundial. O ganho de um é a perda do outro. Sempre que você protege um, você desprotege outro."

Ele compara o primeiro mandato de Dilma com o final dos anos 50 e o pós-choque do petróleo de 1973, quando o governo também não aceitou a crise externa e preferiu continuar crescendo a qualquer custo sem fazer ajustes.

As consequências eventualmente aparecem e quanto mais demora o enfrentamento, pior fica a situação: "Escolhemos o estímulo que resultou na década perdida. Esse é o custo do populismo".

Lisboa, que foi Secretário de Política Econômica do primeiro governo Lula, diz que só fica levemente otimista com a abertura maior para o debate, e que "não há saída dessa crise que não passe pela reforma do Estado".

Ele acredita que as mudanças não precisam nem devem ser bruscas, e que algumas políticas de proteção poderiam até ter sido feitas, só que de outra forma - com data para acabar e metas de desempenho, por exemplo.

E importantante: elas não surgiram em um vácuo. Respondiam a demandas empresariais e foram amplamente defendidas por associações setoriais na época.

"Mas todo mundo que apoiou agora finge que era crítico desde o começo", provoca.

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