Ex-Presidente americano Bill Clinton: "o navio do Brasil não está afundando e o futuro será formidável" (Thiago Bernardes)
Da Redação
Publicado em 12 de novembro de 2015 às 15h33.
Brasília - O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton pediu nesta quinta-feira aos empresários brasileiros para terem confiança no futuro do país, apesar das atuais dificuldades econômicas e políticas, e para que se concentrem nas "forças positivas" neste atual momento de crise.
"O navio do Brasil não está afundando e o futuro será formidável", afirmou Clinton, que ficou no poder entre 1993 e 2001, encerrando com um tom otimista um seminário organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que reuniu 2 mil empresários em Brasília.
Clinton admitiu que o Brasil passa por dificuldades, mas pediu aos membros do sindicato da indústria para analisar com mais tranquilidade os desafios do país.
"Os desafios políticos são uma oportunidade para que, daqui cinco anos, os senhores olhem para trás e pensem: com que era que estávamos preocupados?", afirmou o ex-presidente, que desembarcou hoje em Brasília, após ter viajado ao Peru para se reunir com o presidente do país, Ollanta Humala.
Além de uma grave crise política, com a presidente Dilma Rousseff ameaçada de impeachment e com níveis mínimos de popularidade, o Brasil enfrenta uma profunda recessão econômica.
Os analistas preveem que, após ter crescido somente 0,1% no ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) sofrerá uma contração de 3,10% em 2015 e 1,90% em 2016. O país fechará o ano com uma inflação de 9,99%, a maior em 13 anos, com as maiores taxas de juros da década e com um déficit recorde nas contas públicas.
Clinton, no entanto, destacou que o Brasil não sofre com conflitos religiosos nem guerra, e mencionou também as grandes riquezas naturais do país e sua capacidade para produzir alimentos e energias renováveis.
Além disso, ressaltou os importantes avanços sociais conseguidos pelo Brasil nos últimos 25 anos, especialmente na luta contra a pobreza, a inclusão social, a diversificação da economia e a redução do desmatamento da Amazônia.
"Seu povo, seus recursos e seu histórico de obter avanços, não só econômicos, mas também sociais, os permitirão atravessar esse momento difícil. Os senhores têm mais ativos do que a maioria dos países do mundo. Preferia estar na posição do Brasil do que na de muitos outros países", afirmou Clinton.
Para o ex-presidente norte-americano, o Brasil é um dos países melhor posicionais no mundo para se desenvolver a longo prazo.
"Não há como conseguir todos esses avanços sem distorções nem imperfeições. Enormes oportunidades foram criadas. Não podemos controlar tudo, mas podemos controlar como lidamos com isso", disse.
O ex-presidente disse que o melhor livro sobre política lido por ele nos últimos anos foi escrito por um microbiólogo, que fala sobre a forma como os homens, assim como os insetos, conseguem avançar por meio da cooperação.
"O mundo pertence aos que cooperam", disse ao fazer referência "A conquista social da terra", de Edward O. Wilson.
Clinton destacou que o Brasil não marcha isolado no mundo e que, dado ao elevado grau de interdependência entre os países, sua recuperação e êxito interessa a todo o mundo, inclusive aos EUA.
"O mundo precisa de um Brasil bem-sucedido. Os EUA precisam desesperadamente de seu maior parceiro no continente para construir uma América com democracias que funcionem para combater o fundamentalismo em outras partes do mundo", disse.
Quanto aos grandes desafios mundiais, Clinton citou os níveis desiguais de crescimento, as mudanças climáticas e o surgimento de grupos como o Estado Islâmico. Na análise da política global, o ex-presidente mencionou uma divisão de forças "positivas e negativas" que operam em diferentes países.
Como forças positivas, o ex-presidente citou os que lutam pelo fortalecimento das democracias com propostas de crescimento econômico. Elas têm como antagonistas os fundamentalistas, como o EI, que tentam instaurar regimes totalitários.