Roberto Campos Neto: cautela na gestão do câmbio (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de março de 2019 às 14h53.
Brasília — O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, enfatizou nesta quinta-feira, 28, que não há mudança na estratégia do BC para o câmbio. "O câmbio é flutuante e vamos sempre fazer as intervenções provendo liquidez. Não existe nenhuma estratégia de trocar leilões de linha por swaps", respondeu.
Segundo Campos Neto, o cupom de câmbio estava com comportamento disfuncional na quarta-feira, 27. "Por isso entendemos que o leilão de linha era o instrumento adequado e que o timing era adequado. O leilão de linha é sempre visando o cupom cambial", completou.
O presidente do Banco Central avaliou que o país tem a ganhar com uma moeda conversível. "A oscilação entre o preço do dólar dentro e fora do país tem um custo de conversibilidade. Precisamos analisar o quanto é esse custo. Achamos que um país que está caminhando para onde estamos indo precisa trazer esse debate à tona", afirmou.
Segundo ele, porém, esse não é um debate para ser feito no curto prazo. "Mas isso é um norte, uma discussão de longo prazo que exigirá alguns ajustes no câmbio. Não temos nada para anunciar sobre isso por enquanto."
Campos Neto comentou que houve momentos em que o crescimento global se reduziu, mas houve aumento da liquidez internacional. Já em outros momentos, a desaceleração global retirou liquidez dos mercados. "É importante observar a desaceleração global. Quando ela é rápida, isso preocupa. Mas não sabemos ainda como será o futuro. A desaceleração dos Estados Unidos tem que ser observada", disse
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, afirmou ainda que o BC não vê uma ligação direta entre os choques na atividade em 2018 e uma eventual redução do PIB potencial do País. "Os choques produziram apertos das condições financeiras e estes efeitos podem persistir", respondeu o diretor.
Vianna voltou a defender que as reformas de natureza fiscal são importantes para que a taxa de juros neutra da economia brasileira caia ao longo do tempo.
O presidente do Banco Central disse que o BC não sabe ainda quanto tempo precisa para fazer a correta avaliação sobre os choques na atividade econômico ocorridos ao longo de 2018. "Entendemos que existem choques e que precisamos de tempo maior para avaliar", respondeu. "Quando temos choques, muitas vezes é apenas um aperto monetário temporário. É preciso de tempo para ver como o choque vai se dissipar", completou.
Campos Neto comentou ainda que o que importa para o BC sobre a reforma da Previdência é a influência que as expectativas de aprovação da proposta podem ter sobre os canais de transmissão da política monetária.
O presidente do BC evitou comentar sobre o trabalho do economista André Lara Resende, que defendeu em artigo recente que a taxa de juros não deveria ficar acima da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). "Trata-se de um trabalho acadêmico. É uma tese embrionária e não cabe ao BC comentá-la", limitou-se a responder.