Economia

Não é só o arroz: preço de têxteis dispara na indústria e afeta vestuário

Setor têxtil começa sua retomada com escassez e altos preços de matéria-prima; problema é conjuntural, segundo a Abit, e deve se normalizar até o fim do ano

Malhas: O algodão em caroço, uma das commodities que o Brasil exporta em grande quantidade para outros países, subiu 32% em 12 meses (kurmyshov/Thinkstock)

Malhas: O algodão em caroço, uma das commodities que o Brasil exporta em grande quantidade para outros países, subiu 32% em 12 meses (kurmyshov/Thinkstock)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 25 de setembro de 2020 às 13h47.

Última atualização em 25 de setembro de 2020 às 17h14.

Como se já não bastasse o apagão de clientes que as lojas de roupas tiveram em meio à crise do coronavírus, com consumidores focados apenas nos bens essenciais, a indústria têxtil passa agora por outro tipo de problema: a falta de matéria prima.

Dono do e-commerce de roupas Oba!/Time Bomb, Ricardo Dariva atua há 15 anos no setor e nunca viu uma situação dessas. "Malhas de algodão de cores básicas já não encontro mais em lugar nenhum. Direto nas fábricas, só daqui a 60 dias", diz.

Em outubro, as empresas do setor já estão com o planejamento de ações e estoques pronto para a Black Friday, que acontece em novembro, e para o Natal. Neste ano, porém, tem sido difícil antecipar o comportamento dos consumidores e dos preços no atacado.

"Essa é uma época em que as vendas aumentam, a gente baixa os preços, mas como vamos fazer isso se o preço só sobe e a gente ainda não sabe se vai ter material para comprar? Acaba compliando bem a programação de fim de um ano que foi bem esquisito, e agora a gente não sabe como vai ser no fim do ano", diz Dariva.

O algodão em caroço, uma das commodities que o Brasil exporta em grande quantidade para outros países, subiu 32% em 12 meses. Só neste ano acumula uma valorização de 22%. O preço do insumo tem uma forte influência do câmbio. No acumulado do ano, o real já se desvalorizou 38% em relação ao dólar. Ou seja, a produção nacional ganhou competitividade na cena externa, sendo mais vendida. E, por aqui, acabou ficando mais escassa.

A situação também afetou lojas grandes que, apesar de terem mais fôlego para garantir seus estoques, também foram pegas de surpresa.

"Como trabalhamos com planejamento anterior de cinco meses, não estamos sofrendo tanto. Mas quisemos acrescentar vendas extras para o fim do ano e não conseguimos. Falta fio de algodão no mercado e, quando tem, é cerca de 40% mais caro", conta Renata Bizarro, responsável da Levis pela coordenação da produção feita no Brasil.

Não é só o preço do algodão que influencia o movimento nesta indústria. O setor têxtil, um dos mais prejudicados pela pandemia, passa pela falta de sincronicidade característica do processo de retomada, segundo Fernando Pimentel, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit):

"Ninguém pôde receber mercadorias com estabelecimentos fechados. Na hora que abre as portas se abrem, todos querem receber tudo o que estava previsto. Ou porque estava aguardando ou porque se surpreendeu com a retomada mais forte do que o esperado", diz. Pimentel prevê mais 90 ou 100 dias para que o setor têxtil volte ao nível de 2019, mas de forma geral, porque cada tipo de negócio terá seu tempo, diz ele.

Um exemplo que deve fechar o ano ainda longe do nível pré-pandemia são as fábricas e lojas de roupa social. "Há muita gente em casa ainda, é bom lembrarmos que a pandemia não está resolvida", diz.

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