Economia

Não é só no Brasil: demanda por alimentos valoriza arroz mundo afora

Os preços dos cereais, que inclui o arroz, estão acima do índice geral de preços da ONU desde março, quando a pandemia começou

Sacos de arroz em um depósito na Indonésia (Dimas Ardian/Bloomberg)

Sacos de arroz em um depósito na Indonésia (Dimas Ardian/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 18h39.

Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 20h20.

O recente pico nos preços de alimentos básicos vem sobrecarregando o orçamento de famílias brasileiras, que estão tendo de arcar com um aumento significativo de itens como o arroz, que já acumula alta de 20% no ano, sendo vendido em alguns lugares a 40 reais. Esse cenário soa familiar num país traumatizado por anos de hiperinflação, mas não é uma exclusividade do Brasil.

Os preços dos cereais, que inclui o grão, estão acima do índice geral de preços desde março, quando a pandemia começou, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). Entre os principais cereais, cevada, milho e arroz foram os que mais subiram, diz a organização (veja gráfico abaixo).

Enquanto o índice geral de preços chegou a 96,1 pontos em agosto (1,8 ponto acima do nível de julho e 2,1 acima do registrado há um ano), o índice de preços dos cereais bateu em 98,7, 1,8 ponto acima do mês anterior e 6,5 pontos ante um ano atrás. Em contraste, os valores de carnes e laticínios se mantiveram estáveis ​​próximos aos níveis de julho.

No caso dos preços internacionais do arroz, a ONU justifica a alta pela disponibilidade restrita do alimento nesta época do ano somada ao aumento da demanda africana. Nos mercados de trigo, os preços de exportação aumentaram, embora com menos força, em razão das perspectivas de menor produção na Europa e do aumento no interesse de compra.

Já no caso da cevada, os preços ganharam força, aumentando 3,2% de junho para agosto, refletindo um ritmo mais rápido nas exportações da Argentina para a China, segundo a ONU. As preocupações com as perspectivas de produção nos Estados Unidos após os recentes danos às safras em Iowa elevaram os preços do milho em mais 2,2% em agosto.

Durante a pandemia, a inflação acelerou em itens cuja demanda foi mais forte, caso de alimentos, artigos para casa e itens de higiene pessoal. Para os demais itens, de uma forma geral, houve desaceleração dos preços e até deflação. A demanda segue deprimida para alimentação fora do domicílio, vestuário e turismo. Esse padrão foi observado com mais força nos Estados Unidos, na zona do euro e no Brasil, como observa Julia Passabom, economista do Itaú Unibanco, em relatório desta semana.

O movimento fez acender uma luz de alerta, e o governo chegou a apelar aos supermercados para que sacrifiquem suas margens de lucro em vez de repassar os reajustes aos consumidores. Nesta quarta-feira, o Ministério da Justiça notificou empresários sobre o aumento e deu cinco dias para uma resposta.

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