Economia

Na pandemia, o que os brasileiros têm falado sobre economia no Twitter

Muita coisa passou a ser feita pela internet, e nenhum ambiente refletiu tanto o estado de espírito coletivo quanto as redes sociais

Twitter: aumento nas conversas sobre economia, do desemprego ao dólar (Mike Blake/Reuters)

Twitter: aumento nas conversas sobre economia, do desemprego ao dólar (Mike Blake/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 14h31.

Última atualização em 26 de outubro de 2020 às 14h47.

Indo para o oitavo mês de isolamento em maior ou menor grau, os brasileiros tiveram de adaptar hábitos, rotinas, reuniões e compras à pandemia. Muita coisa passou a ser feita pela internet, e nenhum ambiente refletiu tanto o estado de espírito de parte da população quanto as redes sociais.

Um novo levantamento do Twitter obtido pela EXAME, com base em pesquisas e posts dos usuários, joga luz sobre como os brasileiros se sentiram na pandemia — e o que as empresas e a economia brasileira têm a ver com isso.

Com o desemprego no Brasil beirando os 14% e as conversas mais restritas à internet, as redes viraram como nunca espaço para falar de economia, emprego e consumo, diz Camilla Guimarães, diretora da área de pesquisa do Twitter Brasil.

"Temos visto mais conversas de pessoas falando sobre desemprego, sobre ser desligada de seu emprego, conversas sobre a alta do dólar. São assuntos relacionados à economia e não só de especialistas, mas das pessoas que veem aquilo na vida delas", diz.

De janeiro a julho, houve 36% no aumento de conversas relacionadas a ajuda e divulgação de trabalho, perfis de pessoas buscando emprego ou complemento de renda.

Já em uma pesquisa específica do Twitter com uma amostra de usuários, uma em cada quatro pessoas disse ter sido impactada financeiramente pela pandemia, com corte de salários ou perda do emprego. E uma em cada seis se sente insegura com suas finanças pessoais nos próximos seis meses.

A equipe do Twitter e pesquisadores convidados que ajudaram na análise destacaram seis "comportamentos" vistos nos brasileiros na pandemia. A conexão social, apesar da distância, com o aumento de menções a lives e reuniões online; a exploração da criatividade, com atividades, cursos e lazer; os desafios da saúde mental na quarentena; o "carrossel de emoções" gerado pela pandemia e a busca por um "novo ritmo" profissional e pessoal.

Por fim, houve ainda o que os pesquisadores chamaram de "consumo contraditório" — o desejo de ajudar pequenos empreendedores e participar de ações de sustentabilidade, ao mesmo tempo em que houve um aumento do consumo de grandes empresas e lixo gerado.

As conversas sobre saúde mental subiram 41% diariamente, incluindo temas como aumento do estresse e autocuidado no isolamento. Com tanta tela, as pessoas também mostram querer fugir um pouco do digital: houve um aumento de 46% nas menções relacionadas aos pequenos prazeres da vida, do nascer do sol a atividades analógicas como leitura ou jardinagem.

Ao todo, 91% espera impacto "dramático e negativo" do coronavírus na economia do Brasil. E 57% estão pessimistas com a recuperação no pós-pandemia.

O consumo também foi tópico presente e mostra as transformações dos últimos meses. Houve um crescimento de 37% nas conversas mencionando e incentivando a compra de pequenos negócios. No delivery, mais de 40% dos usuários do Twitter no Brasil aumentaram o consumo de serviços de aplicativo de entrega, segundo a pesquisa entre os usuários — e pretendem manter o hábito após a quarentena.

Na outra ponta, o assunto pipocou como nunca nos posts, positivamente ou não. Na greve dos entregadores, houve 311.000 tuítes apoiando o movimento e usando a hashtag #BrequedosApps no dia da paralisação.

Mais de 80% dos usuários afirmaram que um comportamento sustentável das empresas ficou mais importante com o coronavírus e parcela parecida disse que é importante reduzir a pegada de carbono. O marketing também não foi malvisto: 88% das pessoas acreditam que as empresas têm de comunicar os esforços que estão fazendo para enfrentar a pandemia.

Enquanto houve um crescimento natural em alguns tipos de conversa (o número de menções a lives subiram 10 vezes), outras, como as menções a encontros físicos e atividades comuns antes da pandemia, caíram. "Essa mudança de comportamento que a gente foi forçado a viver, muda completamente o assunto sobre o qual você fala", diz Guimarães.

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