Donald Trump e Hillary Clinton: eleições nos EUA estão marcadas para o próximo dia 8 (Mike Segar / Reuters)
AFP
Publicado em 5 de novembro de 2016 às 12h38.
Última atualização em 5 de novembro de 2016 às 16h48.
Impostos, gastos públicos, protecionismo: no que diz respeito à economia, os dois candidatos à Casa Branca têm visões radicalmente opostas. A democrata Hillary Clinton representa a continuidade, enquanto o republicano Donald Trump seduz ou assusta com suas propostas radicais.
Embora muitos economistas do mundo acadêmico, inclusive de agências classificadoras, se alarmem com o "perigo" que Trump representa para a prosperidade americana, não faltam pequenos empresários, assim como investidores, para os quais os planos do candidato republicano seriam benéficos para a economia.
Em um momento em que as pesquisas de opinião situam os dois candidatos cabeça a cabeça faltando poucos dias para a votação, seria possível dizer que "Wall Street é pró-Clinton e Main Street (as pequenas e médias empresas) são pró-Trump", resumiu recentemente Steve Odland, do Committee for Economic Development (CED), um instituto empresarial de estudos político-econômicos.
Esta ambivalência se reflete em uma pesquisa realizada pela rede CNBC na semana passada, que entrevistou meia centena de economistas e operadores financeiros de Wall Street: 82% pensam que Clinton vencerá, mas 46% contra 39% avaliam que, apesar de tudo, a política do bilionário favorecerá a economia.
Outra pesquisa, realizada em outubro, pela Pepperdine/Graziadio Business School de Los Angeles com 1.353 pequenos empresários do país mostrou que a maioria prefere Trump por suas posições sobre o seguro de saúde (55% contra 45% a favor de Hillary), bem como sobre os impostos (66% contra 34%) e o comércio (55% contra 45%).
O projeto econômico do candidato republicano propõe reativar a economia, reduzindo o déficit e flexibilizando as regulamentações.
Promete crescimento de 3,5% a 4% (contra 1,8% projetado para 2016), reduzindo o imposto sobre as empresas de 35% para 15% e baixando os tributos dos contribuintes mais ricos (com a faixa mais elevada passando de 39,6% a 33%), o que, no entanto, aumentaria fortemente o déficit orçamentário.
Também promete renegociar os acordos comerciais, suprimir o Obamacare (seguro de saúde) e erguer um muro para deter a imigração.
O plano da ex-secretária de Estado é, ao contrário, mais redistributivo, inscrevendo-se na continuidade da política do presidente Obama.
Hillary planeja aumentar os impostos aos mais ricos, elevar o salário mínimo federal, facilitar a gratuidade das universidades locais para os setores mais pobres e apenas reformar o programa Obamacare. Também elevaria o déficit, mas em menor medida.
Mas Trump alarma o mundo acadêmico: pelo menos 370 profissionais e especialistas universitários em economia, inclusive prêmios Nobel, assinaram uma carta aberta publicada no jornal The Wall Street Journal pedindo para "eleger o outro candidato" no lugar do bilionário, que, segundo eles, representa "uma opção perigosa e destrutiva para o país".
Trump "desinforma o eleitorado, perde a confiança da opinião pública nas instituições com teorias conspiratórias e mantém ilusões deliberadamente, ao invés de estar em sintonia com a realidade", acrescentam os acadêmicos.
O próprio FMI está alarmado com o espectro do protecionismo que - de Trump ao Brexit - "ameaça o crescimento mundial".
Para Steve Odland, do CED, o estilo agressivo de Trump pode seduzir alguns meios empresariais, porque reproduz a tática dos promotores imobiliários que pressionam para a conclusão de acordos negociando duro a partir de propostas ultrajantes.
"No comércio, deve-se negociar com estes promotores. São verborrágicos e intensos. Encaram as coisas de uma forma que realmente pode parecer delirante", explicou este ex-empresário de grandes redes de distribuição à rede CNBC, acrescentando que Trump "enfrenta a geopolítica desta maneira".
Segundo analistas da Capital Economics, uma vitória de Trump "poderia não aportar as mudanças radicais temidas".
"Provavelmente, chegando ao Salão Oval, deve flexibilizar sua retórica, principalmente no que diz respeito ao comércio e à sua política orçamentária", freado pelo Congresso, afirmam.
No curto prazo, uma vitória do candidato republicano, principalmente se houver uma eleição disputada, com recontagem de votos, como ocorreu em 2000 na Flórida entre Al Gore e George W. Bush, fará Wall Street cair.