Economia

"Na América do Sul trabalhamos para alimentar o mundo"

Apesar de ser principal produtor de trigo da Argentina, Grobopatel afirma que a sua paixão fundamental não são os negócios, mas sim a música


	Trigo: Grobopatel defendeu o sistema de plantio direto, que abarca 91% das terras agrícolas da Argentina
 (Getty Images)

Trigo: Grobopatel defendeu o sistema de plantio direto, que abarca 91% das terras agrícolas da Argentina (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2013 às 16h51.

"Na América do Sul trabalhamos para alimentar o mundo", disse à AFP, Gustavo Grobocopatel, chefe de um dos grupos agroindustriais mais poderosos da América Latina e alertou que quem critica a soja "está contra os pobres que começaram a comer".

Grobocopatel, de 51 anos, apelidado de Rei da Soja apesar de ser o principal produtor de trigo da Argentina, dirige o maior grupo agrícola do país, mas não tem um só hectare próprio e sua paixão fundamental não são os negócios, mas sim a música.

"Somos agricultores sem terra, porque a alugamos; sem trabalho, porque o terceirizamos; e sem capital porque nos emprestam dinheiro. A única coisa que temos é a capacidade de gestão, de articulação, o conhecimento", disse. Com um sorriso afirmou: "sou marxista, poderia dizer", enquanto toma mate, no escritório de uma de suas empresas.

"Na América do Sul trabalhamos para alimentar o mundo e, em geral, na Europa se trabalha mais para fazer jardinagem. Não sou contra isso, mas sim que se dê palestras ao resto do mundo sobre o que é preciso fazer", disse o engenheiro agrônomo em alusão à condenação dos transgênicos.

Apenas a Argentina, primeiro exportador mundial de óleo de soja, "está em condições de alimentar 400 milhões de pessoas, em um país com 40 milhões de habitantes", disse este filho de imigrantes russos que chegaram ao país sul-americano em 1910.

Apesar dessa clássica imagem do produtor rural argentino com o mate nas mãos, Grobocopatel é a antítese de seus colegas do setor, com uma visão global e estratégica do país e da região que, por exemplo, considera que "sem a soja o país não teria saído" da profunda crise econômica de 2001.

"A soja é parte de um novo sistema: se alguém critica a soja está contra os pobres, desses pobres que começaram a comer, porque antes na Ásia muita gente vivia com uma porção de arroz por dia e agora pode comer frango, pode comer carne de porco", disse o empresário sobre a oleaginosa que representa 25% das exportações da Argentina, que somaram 81,205 bilhões de dólares em 2012.


Agricultura, tecnologia e folclore

Para ele, o auge da soja "é imparável devido ao enriquecimento das classes mais pobres da Ásia Pacífico, de alguns países da África e da América Latina, que faz com que aumente o consumo e que haja uma mudança nos hábitos de alimentação, de cereais ou produtos mais básicos a proteínas".

Orgulhoso de ser parte desse processo, Grobocopatel lembrou que a região se transformou na "líder tecnológica a nível mundial em agricultura", mas considerou que "falta muito mais em pesquisa e desenvolvimento, em biotecnologia, na agricultura pelo ambiente, no uso de robótica".

Ele também defendeu o sistema de plantio direto, que abarca 91% das terras agrícolas da Argentina, uma modalidade de conservação do solo sem movimentos bruscos da terra que, segundo os especialistas, não produz danos.

"A Argentina é um país que tem o plantio direto extremamente difundido, um grande desenvolvimento tecnológico. Pela primeira vez em 5.000 anos de agricultura, podemos dizer que vamos entregar a nossos filhos solos melhores que os que nossos pais nos entregaram: isso é uma mudança de paradigma na forma de fazer agricultura", disse entusiasmado.

Seu império, que inclui empresas na Argentina, Uruguai e Brasil, que compete com os Estados Unidos como primeiro produtor mundial de soja, conta com uma plataforma de negócios que inclui a comercialização de grãos e oleaginosas, assim como a prestação de serviços como a provisão de agroinsumos e a assistência técnica.

Contudo, sua grande paixão não é a agricultura nem as inovações tecnológicas: integra um conjunto profissional de música folclórica (autóctona).

"Sou músico, já não é um hobby, é meu trabalho; meu hobby é a empresa. Tenho um trio de música folclórica que se chama 'Cruz do Sul' e estudo canto há 30 anos. Esse é meu grande tema", disse.

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