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Mundo ainda não chegou à metade da crise, avaliam nobéis reunidos por EXAME

Stiglitz, Mundell e Prescott afirmam que recuperação será lenta; para Delfim Netto, Brasil pode voltar a crescer ainda neste ano

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 14h35.

A pior crise financeira desde a Grande Depressão de 30 ainda não chegou à sua metade, segundo os três prêmios Nobel reunidos na EXAME Fórum nesta segunda-feira (11/5). “Se eu tivesse de me expressar em números, diria que passamos por dois quintos da crise”, afirmou o economista Robert Mundell. Já para Joseph Stiglitz, “estamos no fim do começo” da crise. E Edward Prescott condicionou a recuperação ao corte de impostos para o setor produtivo. Contudo, o economista mostra-se cético quanto à possibilidade de o governo de Barack Obama reduzir a carga tributária. “Estou pessimista”, disse.

Para Stiglitz, a trajetória da crise não seguirá o desenho usual dos teóricos, como um “V” ou um “U”, isto é, um momento de forte queda, seguido por uma fase no fundo do poço, e uma retomada rápida. Para o ganhador do Nobel de 2001, o caminho da crise será mais parecido com uma “raiz quadrada de ponta-cabeça”. Para o economista, haverá uma fase de recuperação e, após um pico, um certo recuo, até que o mundo se estabilize em um novo patamar. “É muito difícil ter certeza, mas é possível que continuemos sentido esse mal estar, essa recuperação lenta”, disse.

Corte de impostos

Para os economistas, o corte de impostos sobre a produção e o lucros seria uma medida necessária para assegurar o retorno do crescimento e dos investimentos. Segundo Mundell, a próxima fase das políticas públicas de combate á crise deveria envolver o corte de impostos. O economista lembrou, por exemplo, que a Alemanha recentemente cortou a alíquota do imposto sobre lucro de 38% para 15%. “Foi um grande passo para a recuperação”, afirmou.


Prescott também condiciona a velocidade da recuperação ao corte dos impostos. “A única coisa que vai levar a economia real a se recuperar é a queda dos impostos”, disse. O economista, porém, mostra-se descentre de que essa medida seja adotada pelo presidente americano, Barack Obama, ou por outros países. “Estou pessimistas”, disse.

Brasil

O Brasil foi tratado pelos economistas como um dos mais preparados para enfrentar a crise. “O Brasil vai se dar bem; os fundamentos estão aqui”, afirmou Prescott. “Fico feliz em saber da posição do Brasil. O país está bem mais preparado para enfrentar a crise”, disse Mundell, acrescentando que visitou o país, pela primeira vez, em 1967.

Já para o ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, responder quando o Brasil sairá da crise é uma questão de referências. “O que é terminar a crise? Para o Brasil, é voltarmos a sentir algum conforto”, disse. Delfim reforçou o coro dos Nobel presentes ao EXAME Fórum, e destacou a atual resistência do país. O economista argumentou que, ao contrário de eventos passados, esta crise não destruiu o sistema produtivo.

O relatório Focus, do Banco Central, indica que, na média, o mercado espera que o país enfrente uma recessão de 0,30% do PIB neste ano. Para Delfim, se sair da crise significar voltarmos a um patamar de expansão de 3,5% do PIB, a recuperação será rápida. “Isso é coisa para os próximos 12 meses”, disse. Mas, se sair da crise for o mesmo de voltar aos patamares de expansão anteriores à sua eclosão, então “vamos demorar muito”. “Não podemos perder a esperança de voltar àquele patamar, mas temos de lembrar que estamos num mundo em crise”, afirmou.

O EXAME Fórum reuniu pela primeira vez, no Brasil, três Nobel de Economia. O evento discutiu as origens e as saídas para a atual crise econômica mundial. O encontro foi realizado em São Paulo, e contou com a presença de alguns dos mais importantes homens de negócios do Brasil.
 

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