Mujica visitou a presidente Dilma para parabenizá-la pela reeleição (Pablo Porciuncula/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2014 às 21h17.
Brasília - O presidente do Uruguai, José Mujica, visitou nesta sexta-feira presidente brasileira, Dilma Rousseff, para parabenizá-la pela reeleição em outubro, e aproveitou a oportunidade para pedir apoio para a construção de um porto de águas profundas no Uruguai.
Mujica, o primeiro líder estrangeiro recebido por Dilma após a reeleição, disse a jornalistas que nas quase três horas de reunião foram tratados diversos temas bilaterais, mas também outros de impacto regional e relacionados com a 'necessidade' de avançar rumo a uma maior integração.
Nesse marco, citou o projeto para a construção de um porto de águas profundas no litoral atlântica do departamento uruguaio de Rocha, uma iniciativa para a que o Uruguai aposta em conseguir apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil.
No entanto, Mujica esclareceu que 'não se falou de financiamento', mas 'da importância que esse projeto tem para a região, para o Uruguai, mas também para o Brasil, para a Argentina' e outros países sul-americanos, indicou.
Ele insistiu na necessidade de os países latino-americanos 'deixarem de olhar ao norte ou para Paris', para prestar mais atenção entre eles. E afirmou que 'a reeleição de Dilma favorece a integração e a renova, porque o Brasil é a espinho dorsal desse processo'.
Tanto Dilma como Mujica avaliaram a contribuição de mecanismos de integração como o Mercosul e a União de Nações Sul-americanas (Unasul), que mês que vem realizarão suas cúpulas anuais.
Dilma manteve a linha de discurso de Mujica, e afirmou que os países-membros do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela) 'devem avançar rumo a uma maior integração de suas cadeias produtivas, com mais atenção em seus próprios interesses'.
Essa integração, disse a presidente, deve 'servir a todos' e tem que ser 'produtiva', independente do grau de desenvolvimento econômico que cada um dos membros do bloco tenha alcançado.
'Nem o Brasil é tão grande como dizem, nem o Uruguai é tão pequeno como alguns pensam', declarou.
Mujica, cujo país está em pleno processo eleitoral, com um segundo turno que será disputado daqui a três semanas entre o ex-presidente Tabaré Vázquez, do governista Frente Ampla (PA), e Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, também deixou fez uma crítica a setores da imprensa que se opunham à reeleição de Dilma.
'Estamos acostumados a ler nos jornais latino-americanos que tudo se derruba, mas depois ganhamos as eleições, portanto não estamos tão mal', declarou o presidente do Uruguai.
Os presidentes falaram com os jornalistas na porta do Palácio do Planalto, até onde Dilma acompanhou Mujica num gesto incomum que é prova de uma grande amizade pessoal e da 'admiração' que tem um pelo outro.
A presidente inclusive aguardou Mujica entrar no carro e partir com toda sua comitiva, para somente depois voltar ao seu escritório.
No diálogo com os jornalistas, Mujica até comentou a oferta de R$ 1 milhão que recebeu de um sheik árabe por seu Fusca 1987.
'Não se preocupem com o 'Fusca'', declarou Mujica, que deu a entender que estuda a oferta com seriedade ao falar que 'os carros têm preço. Quem não tem preço somos nós'.
A oferta foi confirmada por Mujica em declarações à revista 'Busca', de Montevidéu, para quem explicou que, caso aceite, doaria o dinheiro para diversos projetos sociais que estão sendo desenvolvidos no Uruguai.