Estudo do Santander afirma que o nível de inadimplência deve cair 43% e o percentual de tomadores aprovados dobrará com mudanças na legislação (AntonioGuillem/Thinkstock)
Reuters
Publicado em 14 de março de 2019 às 16h43.
São Paulo — A Serasa Experian, empresa de análise de dados financeiros no país, prevê que sua base de pessoas físicas cujos dados poderão ser consultados para análise de crédito deve multiplicar por 10, para mais de 100 milhões, após a entrada em vigor das novas regras do Cadastro Positivo, disse um executivo da companhia.
"Agora o Cadastro Positivo vai funcionar como deveria", disse o diretor da Serasa Experian para a América Latina, José Luiz Rossi.
O Senado aprovou em plenário na quarta-feira o projeto que prevê a adesão automática do cadastro positivo. O texto agora segue à sanção presidencial e, se aprovado, deve entrar em vigor seis meses depois.
O projeto altera a lei do Cadastro Positivo que entrou em vigor em agosto de 2013, que teve impacto limitado porque dependia de as pessoas voluntariamente aderirem ao sistema. Com a mudança aprovada, todos passam a ter seus dados no cadastro, a não ser que se manifestem em contrário.
Com isso, a expectativa de analistas do setor é que entrem para o sistema mais de 100 milhões de pessoas.
Além disso, o sistema passará a conter dados de concessionárias de serviços públicos, como de eletricidade, saneamento básico e telefonia, o que amplia a base de dados.
Dona de cerca de dois terços do mercado de análise de crédito no Brasil, a Serasa Experian tem atualmente uma base de cerca de 11 milhões de pessoas. Outras operadoras dos chamados bureaus de crédito que poderão ter acesso ao sistema incluem a Boa Vista SCPC e a Quod, que têm como sócios os grandes bancos do país.
Discutido há quase duas décadas no país, o cadastro positivo usa informações históricas de crédito, depois sintetizadas em uma nota de crédito (score) e disponibilizada a bancos e ao comércio para definir limites de empréstimos ou de venda para cada cliente e a taxa de juros a ser cobrada.
"Isso vai criar um ambiente favorável tanto para aceleração dos empréstimos quanto para a queda dos níveis de inadimplência, porque permitirá que os concessores de crédito tenham uma visão mais clara do risco dos tomadores", disse Rossi.
Um estudo do Santander prevê que o nível de inadimplência deve cair em 43 por cento e o percentual de tomadores aprovados dobrará com o Cadastro Positivo. O banco calcula que a inclusão automática de consumidores no cadastro tem potencial em aumentar o volume de crédito em 10 por cento do PIB.
A própria Serasa Experian calcula que a mudança permitirá uma injeção da ordem de 1,3 trilhão de reais na economia, levando a uma relação crédito x PIB de 47,4 para 67 por cento.
Segundo Rossi, com a entrada em vigor das novas regras, em outubro, instituições financeiras e o comércio já poderão usar o cadastro positivo para duas das datas mais importantes para as vendas do varejo, o Black Friday, no fim de novembro, e o Natal.
Diante da demora da entrada em vigor do modelo integral do cadastro positivo e da prolongada fraqueza do mercado de crédito, na esteira de uma profunda recessão, a Serasa Experian já tem nos últimos anos buscado meios de obter receitas ampliando a oferta de serviços.
Esse movimento envolveu iniciativas para expandir rapidamente a base de clientes, por meio da oferta de serviços gratuitos, como o score de crédito e o monitoramento de CPFs e até oferta de empréstimos, em parceria com bancos e fintechs.
"É um modelo parecido com o das redes sociais, em que o indivíduo decide compartilhar mais de seus dados quando percebe que a conveniência ofertada compensa", disse Rossi.
Com esse desenho, em pouco mais de dois anos, a base de consumidores cadastrados na Serasa Experian cresceu de 4 milhões para cerca de 30 milhões. E a expectativa da companhia é de que esse montante chegue a 50 milhões nos próximos anos.
A partir dos resultados já obtidos, a Serasa Experian planeja ampliar a oferta de serviços. Nos Estados Unidos, porexemplo, a Experian começou recentemente a fazer uma espécie de cadastro positivo 2.0, no qual consumidores são convidados a compartilhar mais de seus dados pessoais em troca da possibilidade de aumentarem seu score de crédito.