Dinheiro: transformar dívida em capital oferece aos bancos públicos vantagem não partilhada por privados (Germano Luders)
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2014 às 16h11.
São Paulo - O reconhecimento como capital principal autorizado pelo Banco Central de empréstimos obtidos junto à União pela Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não só melhora o índice de Basileia, mas terá efeito bastante favorável na capacidade de concessão de crédito de tais instituições, disse a analista sênior de bancos da Moody's, Ceres Lisboa, em entrevista após a conferência anual da agência.
"Sem dúvida, amplia a capacidade dos bancos públicos de conceder empréstimos com maior conforto", destacou Ceres.
Ela observa que essa é a primeira vez que isso acontece no Brasil e entende que, de certa forma, essa transformação de dívida em capital oferece aos bancos públicos uma certa vantagem não partilhada pelos bancos privados, que têm no mercado seus principais credores.
A analista disse ainda que não tem um juízo de valor sobre essa forma encontrada pelo governo para administrar a forte expansão das carteiras de crédito dos bancos dos últimos anos a partir de aumento de dívida.
"Vimos a carteira crescendo suportada por dívida e isso nos levou a acompanhar mais de perto o movimento. Mas não temos claro se essa forma como foi administrada a questão é positiva ou negativa. Temos de acompanhar", afirmou.
Ceres entende, de qualquer forma, que a alavancagem das instituições publicas vai diminuir e os indicadores de qualidade melhorar.
Ainda, os bancos públicos devem a crescer carteira de modo mais saudável.
Segundo Ceres, a Caixa recebeu autorização para converter R$ 36 bilhões em várias dívidas que tinha com a União em capital principal; o BNDES, R$ 30 bilhões; e o Banco do Brasil, R$ 8 bilhões.
Ela diz que a Moody's não calculou qual o potencial de crescimento de crédito a partir da melhora na capacidade de alavancagem gerada pelo reconhecimento.
Mas, como exemplo, cita que a relação do capital principal com os ativos ponderados pelo risco da Caixa de 5% a 6% deve dobrar para 10% a 12%, nível do setor privado e que sempre está menos alavancado.
Ceres disse ainda que a liberação do compulsório para aquisição de carteiras de créditos de outros bancos e de letras financeiras não teve ainda muito efeito.
"Grande parte dos bancos com os quais conversamos comprou algumas carteiras de veículos de boa qualidade, mas ainda não houve grande movimentação. Os bancos não precisam desse dinheiro. A intenção do governo era que chegasse aos bancos médios, que também estão seletivos. Os mais beneficiados foram os bancos de montadoras, mas como a demanda pelos empréstimos não é tão forte, o fluxo não chegou a ser intenso."
Sobre as Letras Imobiliárias Garantidas (LIG), Ceres diz que é difícil comentar diante da ausência de regulamentação.
Mas considera que é um instrumento muito favorável, especialmente para um potencial emissor como a Caixa, que tem uma carteira de R$ 300 bilhões em crédito imobiliário.
"Essa carteira pode ser atrelada a uma LIG, a instituição captar mais recursos e continuar crescendo, com um funding estável", comentou.
Ela lembra ainda que, do ponto de vista do investidor, o papel é também muito atraente, já que, como um covered bond, está protegido de evento de liquidação da instituição.