Carlos Ghosn CEO da Nissan e Renault: "a expectativa é de queda nas vendas em 2015 e isso é uma grande frustração" (Jiji Press/AFP)
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2015 às 09h47.
Genebra - Enquanto, na terça-feira, 3, no Brasil, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) anunciava projeções ainda mais pessimistas para o setor, em Genebra, durante o primeiro dia de um dos principais salões de carros do mundo, os executivos das maiores montadoras do mundo demonstravam preocupação com o mercado brasileiro.
"A situação está um pouco difícil", disse o presidente da Renault, Carlos Ghosn. "A expectativa é de queda nas vendas em 2015 e isso é uma grande frustração porque sabemos que o Brasil tem um grande potencial", lamentou o executivo, que participa do evento em Genebra.
As expectativas do setor pioraram desde o início do ano. Em janeiro, por exemplo, a Fenabrave disse que estimava uma retração de 0,53% nas vendas.
Ontem, mudou essa previsão prevendo uma queda de 10% em relação ao ano passado, com um total de 2,48 milhões de emplacamentos até dezembro deste ano. Em 2014 ante 2013, as vendas caíram 7,1%.
Também em janeiro a Anfavea (a associação das montadoras brasileiras) indicou que o ano de 2015 seria de estagnação na venda, em quase 3,5 milhões de unidades. A produção teria alta de 4,1%.
Para Ghosn, a retomada do crescimento foi adiada "para 2016 ou 2017".
"Chegou o momento de o governo assegurar que haverá equilíbrio na economia. O Brasil precisa fazer os reajustes necessários para permitir que o mercado volte a se desenvolver."
Masahira Moro, gerente executivo de Mazda, é ainda mais claro ao alertar para a crise no Brasil.
"Não está na hora de abrirmos uma fábrica no País. Continuamos a acompanhar o desenvolvimento no País. Mas vemos que há uma importante turbulência e uma queda de vendas", disse ao jornal O Estado de S. Paulo.
Para as empresas que acabam de fazer pesados investimentos no Brasil, a esperança é a de que o crescimento seja retomado até o fim da década.
"Nosso projeto para o Brasil é de longo prazo", declarou Thomas Weber, um dos membros do Conselho de Direção da Daimler AG. Em 2013, a empresa anunciou investimentos de R$ 1 bilhão para 2014 e 2015 no mercado brasileiro.
Emergentes
A realidade é que o Brasil é apenas parte de uma revisão mais completa da estratégia das grandes montadoras nos países emergentes.
Se desde 2008 a Europa e EUA sofreram uma grave crise financeira, a aposta das multinacionais era de que o mundo em desenvolvimento compensaria pela queda de vendas nos mercados ricos.
Bilhões foram investidos e, hoje, uma revisão desses projetos começa a ocorrer. A General Motors, por exemplo, anunciou na semana passada o fechamento de uma de suas fábricas na Indonésia, para se ajustar a um crescimento mais baixo na Ásia.
Mesmo assim, a empresa mantém que, até 2030, metade das vendas globais de carros se dará nos mercados emergentes.
Nas últimas semanas, as notícias vindas dos mercados emergentes não foram positivas para as montadoras.
Na Venezuela, a Ford perdeu em 2014 cerca de US$ 800 milhões com a volatilidade do câmbio.
Na Rússia, a GM fez desinvestimentos de US$ 194 milhões e cortou sua produção.
Na Ásia, a Toyota registrou queda de vendas de 11%, puxada pela desaceleração de mercados como Indonésia e Tailândia.
Na Índia, as vendas de carros registram quedas desde 2014 e o projeto da Fiat Chrysler de lançar uma produção local da Jeep em 2013 foi adiada provavelmente para o final de 2015. Colaborou Igor Gadelha. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.