Operário na linha de montagem de um veículo, em uma fábrica de São Bernardo do Campo (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2014 às 20h39.
Rio de Janeiro - Recentes medidas do governo federal para incentivar a indústria automotiva são insuficientes para reverter o desempenho do setor nos próximos meses, segundo presidentes de montadoras.
"Temos que atuar nos problemas estruturais para não ter que usar formulas de estimulo ao consumo momentâneo", disse o presidente da PSA Pegeout Citroen, Carlos Gomes, em evento no Rio de Janeiro.
Desde junho, o governo adiou a alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de carros novos, flexibilizou regras de depósitos compulsórios de bancos e anunciou mudanças que darão maior garantia a credores em empréstimos, que podem ajudar o setor responsável por cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Na semana passada, a Anfavea, associação das montadoras, anunciou que a produção de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus de janeiro a agosto caiu 18 por cento ante igual mês de 2013.
As vendas diminuíram 9,7 por cento em igual base, refletindo a economia fraca a menor oferta de financiamentos.
"Claro que a política de IPI não é suficiente. É para um momento de mercado. Temos que pensar em questões fundamentais e estruturais", afirmou o presidente da Nissan, François Dossa.
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse que as medidas de ampliação do crédito para o financiamento de veículos ainda não apareceram, mas espera uma reação do mercado até outubro.
Segundo Moan, a perspectiva é que o estoque do setor encerre o ano perto de 30 dias, contra os atuais 42 dias. "O choque de liquidez só começou a ser operacionalizado na última semana de agosto. Em setembro e outubro veremos acontecer".
A elevada carga tributária e complexidade do sistema de impostos no país foram apontados a como temas centrais que precisam ser combatidos para alavancar o setor e tornar o país mais competitivo internacionalmente.
"Temos muito vilões que nos impedem de vender mais no Brasil. O primeiro é a carga tributária", disse Gomes.
Esses problemas deixam o Brasil em desvantagem ante mercados como Turquia e México, que estão atraindo grandes multinacionais, disse Dossa, da Nissan.
Crise Argentina
Paralelamente aos problemas internos, as montadoras enfrentam os efeitos da crise da Argentina, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil no setor.
O presidente da PSA, Carlos Gomes, afirmou que a produção nacional da montadora esse ano será menor que a do ano passado devido à crise no país vizinho.
O diretor da MAN Latin América, Marco Saltini espera que suas exportações para a Argentina caiam 40 por cento em relação a 2013, para 1.800 caminhões. "Se chegarmos a isso já podemos comemorar", disse.