Economia

MIT: Inovação no Brasil passa por instituições "blindadas" e parcerias

Em evento realizado por VEJA e EXAME, o cientista político Ben Schneider, do MIT, apresenta estratégias para promover a inovação na economia brasileira

Schneider: para ele, o presidencialismo de coalizão tem prejudicado a inovação no Brasil (Flávio Moret/VEJA)

Schneider: para ele, o presidencialismo de coalizão tem prejudicado a inovação no Brasil (Flávio Moret/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2019 às 12h05.

Última atualização em 16 de maio de 2019 às 15h16.

São Paulo — Para o cientista político Ben Ross Schneider, pesquisador do Industrial Performance Center do Massachussetts Institute of Technology (MIT), o cenário da inovação na economia brasileira é positivo, superior aos nossos vizinhos na América Latina, mas poderia ser muito melhor.

Em um estudo feito pelo MIT a pedido do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Schneider listou seis estratégias necessárias para o colocar o Brasil na rota do desenvolvimento no século 21. Na lista, a integração com o mercado global, a parceria com as universidades e a “blindagem” das nossas instituições da influência política. Os resultados foram apresentados nesta quinta-feira, 16, durante o Fórum A Importância da Inovação na Economia Digital, promovido por VEJA e Exame com o apoio do Senai.

Na avaliação de Schneider, as consequências danosas do presidencialismo de coalizão estão entre os principais entraves verificados em anos recentes para a inovação na economia brasileira. “Muitas vezes, os políticos chegam ao cargo sem experiência nas áreas e as escolhas passam por muitas mudanças, com pouca continuidade. Isso abre oportunidades para o rent seeking e a corrupção”, afirmou.

O estudo do MIT apontou que os executivos apontados para áreas estratégias têm passagens médias de apenas um ano pelos cargos. “Um ano é muito pouco para um executivo fazer uma política de longo prazo”, argumenta o cientista político. A pesquisa foi reunida na obra Innovation in Brasil: Advancing Development in the 21st Century, ainda sem título em português e com lançamento no Brasil nesta quinta-feira, no Museu de Arte Moderna (MAM).

Ele também aponta que a solução para colocar o Brasil na agenda da inovação passa pela solução da “tripla hélice”, uma parceria construtiva entre o governo, o setor privado e as universidades. Schneider se preocupa com o baixo índice, de apenas 11%, de empresas consideradas inovadoras que têm programas de cooperação com instituições de ensino. “Há uma desconfiança mútua”, avaliou.

Para Ben Schneider, o Brasil tem um grande número de instituições, órgãos e agências responsáveis pela promoção da inovação. Isso provoca, diz, políticas conflitantes e acaba atrasando o sucesso dos projetos. A sugestão é a “eutanásia institucional” de algumas organizações para o fortalecimento das que trazem os melhores resultados.

Paulo Afonso Ferreira, presidente em exercício da CNI, em evento sobre inovação realizado por VEJA e EXAME

Paulo Afonso Ferreira, da CNI: “Ou entramos em um ciclo de inovação ou viraremos expectadores do desenvolvimento do mundo” | Flávio Moret / VEJA (Flávio Moret/VEJA)

A importância da inovação

Na abertura do fórum, o presidente em exercício da CNI, Paulo Afonso Ferreira, ressaltou a importância da promoção da inovação para a indústria nacional. “A experiência mundial mostra que não há crescimento econômico sustentável sem o uso criativo do conhecimento”, argumentou.

“Ou entramos em um ciclo de inovação ou viraremos expectadores do desenvolvimento do mundo”. Ferreira cobra investimentos em infraestrutura e em educação e abertura da economia brasileira à participação de investidores estrangeiros.

Seis estratégias para a inovação no Brasil, segundo o MIT

1) Compatibilizar políticas industrial e de inovação

Reduzir a fragmentação das políticas, hoje em um número grande de agências, priorizar a inovação nas políticas de conteúdo local, distribuir subsídios de forma mais randômica, adotando estratégias de monitoramento e avaliação independentes.

2) Integrar ao mercado global

Tornar a economia brasileira mais aberta, facilitar a importação de insumos tecnológicos e promover integração ao mercado global em cadeias de produtos de alto valor agregado.

3) Promover a “tripla hélice”

Promover o que chama de “tripla hélice” para a inovação, com uma integração intensa entre agências de governo, empresas inovadoras e universidades.

4) Inovar as instituições

Apoiar as instituições fortes na promoção da inovação e admitir a “eutanásia institucional” de outras. Apoiar novos modelos “blindados”, a partir de parcerias público-privadas, como a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

5) Apoiar o empreendedorismo

Promoção de políticas que promovam e facilitam práticas empreendedoras.

6) Identificar as missões dos setores

Buscar vantagens competitivas a partir de competências que o Brasil já tenha, como estratégia para a inovação. Cita o exemplo da Embraer, que seguiu para a fábrica de aeronaves se baseando em conhecimentos prévios que já existiam no país. Pensar em projetos direcionados e em atenção para a “revolução verde”.

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