Economia

Militar confirma existência de 'Casa da Morte' durante ditadura

Residência era utilizada para tentar convencer militantes de organizações guerrilheirasa atuarem como informantes do exército em seus respectivos grupos armados

Estudantes protestam contra a ditadura: nunca nenhum militar tinha admitido a existência da 'Casa da Morte' (Agência Brasil)

Estudantes protestam contra a ditadura: nunca nenhum militar tinha admitido a existência da 'Casa da Morte' (Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2012 às 15h51.

Rio de Janeiro - Um ex-oficial do Exército confirmou, em entrevista publicada neste domingo no jornal 'O Globo', a existência de um centro clandestino de tortura durante a ditadura militar, chamado de 'Casa da Morte', que só era conhecido a partir das denúncias feitas pela única sobrevivente do local.

'Tinha outras. Eu organizei o lugar. Quem eram as sentinelas, a rotina e quando se dava festa para disfarçar, por exemplo. Tinha que dar vida a essa casa', disse o tenente-coronel da reserva Paulo Malhães, de 74 anos, ex-oficial do Centro de Informações do Exército (CIE).

O militar admitiu ter atuado como oficial deste organismo de inteligência da ditadura na década de 70 numa casa localizada na cidade de Petrópolis, a cerca de 60 quilômetros do Rio de Janeiro, para onde eram levados integrantes de grupos que lutavam contra o regime.

Malhães assegurou que a residência, que tinha sido alugada por um militar, era utilizada para tentar convencer militantes de organizações guerrilheiras e de esquerda a atuarem como informantes infiltrados do exército em seus respectivos grupos armados.

'Para virar alguém, tinha que destruir convicções sobre comunismo. Em geral no papo, quase todos os meus viraram. Claro que a gente dava sustos, e o susto era sempre a morte. A casa de Petrópolis era para isso. Uma casa de conveniência, como a gente chamava', relatou o ex-oficial ao admitir o uso de métodos violentos.

Malhães contou ainda que diversas equipes trabalhavam na 'Casa da Morte' e cada uma atuava com um preso individualmente.

O militar não respondeu o que ocorria com os presos que se negavam a colaborar com a ditadura e assegurou que tudo o que ocorria no local era de conhecimento de seus superiores no exército.

Ao ser perguntado se os presos eram assassinados, apenas disse que alguns 'podiam sofrer consequências' se aceitavam ajudar a localizar seus líderes guerrilheiros mas davam informações falsas.

A existência do centro clandestino de tortura, onde podem ter sido executados pelo menos 22 presos políticos, foi denunciada em 1979 pela ex-guerrilheira Inês Etienne Romeu.


Integrante do grupo VAR-Palmares, ela passou 96 dias na 'Casa da Morte' e foi libertada após convencer os militares de que os ajudaria a capturar membros de sua organização.

Inês denunciou as torturas que sofreu no centro de tortura para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ajudou a localizar a residência, que já tinha sido desmontada.

Até agora, nunca nenhum militar tinha admitido a existência da 'Casa da Morte', apesar de denúncias terem ajudado a identificar um sargento do exército e a um delegado de polícia como torturadores que atuaram no local, e um médico, que foi proibido de exercer a profissão, como colaborador das operações.

Malhães assegurou que comandou a equipe que 'trabalhou' com cinco ou seis dos militantes presos na 'Casa da Morte', a quem teria convencido a apoiar a ditadura, inclusive com incentivos financeiros, e que algumas das pessoas que hoje figuram como desaparecidas políticas são na realidade ex-guerrilheiros que mudaram de lado.

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