Economia

Milhares de demissões no setor de petróleo destroem sonhos

As mais de 100 mil demissões no setor de petróleo estão destruindo os sonhos de muitos migrantes, atraídos pela promessa de muitos empregos e bons salários


	Produção de petróleo: centros petroleiros antes agitados estão esvaziando
 (Getty Images)

Produção de petróleo: centros petroleiros antes agitados estão esvaziando (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 21h02.

Houston - A promessa de muitos empregos e de salários de até um quarto de milhão de dólares por ano atraiu a colombiana Clara Correa Zappa e seu marido britânico para Perth, Austrália, no auge do furor do petróleo e gás do continente.

Havia muita demanda por engenheiros em 2012, quando os preços do petróleo superavam US$ 100 por barril, com o qual ir morar em outros lugares do mundo era algo lógico.

Contudo, em dois anos o petróleo despencou para menos de metade do preço de 2012 e Zappa perdeu seu emprego como analista de segurança.

Agora, ela está preocupada que o marido, que também trabalha no setor de commodities, também perca seu emprego.

Essas preocupações estão crescendo em um momento em que o número de empregos eliminados no setor de energia globalmente é superior a 100.000, já que centros petroleiros antes agitados na Escócia, na Austrália e no Brasil, entre outros países, estão esvaziando, segundo a Swift Worldwide Resources, empresa de alocação de pessoal com escritórios no mundo inteiro.

“É chocante”, disse Zappa, 29, em uma entrevista por telefone. Há “muita pressão para que ele conserve o emprego e ainda faça horas extras”.

Suas preocupações são semelhantes às de dezenas de milhares de trabalhadores que migraram para as cidades do boom de petróleo e gás no mundo inteiro nos anos em que o barril de petróleo bruto chegava a US$ 100, de acordo com Tobias Read, o CEO da Swift.

Ainda que grande parte do foco das demissões esteja nos EUA, onde os campos de xisto que criaram a superabundância sofreram os ajustes mais acentuados, trabalhadores de empresas ligadas ao setor de petróleo do mundo inteiro estão sofrendo, disse ele.

Perspectiva sombria

A perspectiva não está melhorando. Depois de ultrapassar brevemente os US$ 50 neste mês, o petróleo bruto dos EUA voltou a cair ontem e fechou a US$ 48,84 por barril. O Citigroup Inc. disse que o petróleo poderia cair para “a casa dos US$ 20” em abril devido à acumulação de oferta excedente.


A principal questão enfrentada hoje pelos trabalhadores do setor é quando a destruição de empregos vai parar.

Executivos de empresas, entre elas a BP Plc e a Royal Dutch Shell Plc, anunciaram reduções de gastos de mais de US$ 40 bilhões e garantiram aos investidores que estão prontos para ajustar mais caso o mercado não se recupere consideravelmente.

A Austrália se destaca como país especialmente afetado, já que sua força de trabalho já estava dizimada por uma desaceleração no setor de mineração de carvão.

No Brasil, um escândalo por subornos que causou a demissão da CEO da petroleira estatal Petrobras no dia 4 de fevereiro agravou a crise em torno ao petróleo.

O tesouro do Brasil está nas águas do seu litoral, na bacia de Campos, uma formação rica em hidrocarbonetos aninhada sob vastas camadas de sal que tornam a produção cara e arriscada.

Brasil, México

A nuvem sobre o setor no Brasil está parando o desenvolvimento de projetos em Macaé, uma cidade com 230.000 habitantes a cerca de 186 quilômetros a nordeste do Rio de Janeiro.

Escolas internacionais fecharam porque os trabalhadores foram enviados para outras regiões e os royalties do petróleo pagos à cidade neste ano poderiam se reduzir pela metade, disse João Manuel Alvitos, o secretário de Planejamento da cidade.

As perspectivas para o petróleo do México também são sombrias. No fim de 2013, o país começou a tomar medidas para reformar sua constituição e terminar com sete décadas de monopólio, antecipando bilhões de dólares em investimentos das maiores petroleiras do mundo.

A Petróleos Mexicanos, que emprega 153.000 trabalhadores e prometeu protegê-los em meio à depressão do petróleo, começou a terminar contratos e parar aquisições neste ano com o objetivo de economizar de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões.

Esse plano deixou até 8.000 pessoas sem emprego, muitos deles concentrados na cidade portuária Ciudad del Carmen, disse Gonzalo Hernández, diretor da Câmara de Desenvolvimento Econômico da cidade no estado de Campeche.

Muitos trabalhadores que achavam que o fim do monopólio criaria empregos se sentem traídos.

“A reforma energética é uma mentira”, disse Daniel Aquino, um soldador de torres de perfuração que estava esperando um trabalho junto com centenas de pessoas no fim do mês passado depois que os ajustes da Pemex foram divulgados.

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