Dinheiro (Bruno Domingos/Reuters)
Ligia Tuon
Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 16h15.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2020 às 18h55.
São Paulo — Apesar de voltar a figurar entre os nove países com maiores juros reais de dezembro para cá, indo de 11º para 9º lugar no ranking, o Brasil ainda mantém uma taxa abaixo de 1% (0,91% ao ano).
A lista, que reúne os 40 países mais relevantes, é divulgada a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) pelo site MoneYou em parceria com a Infinity Asset Management.
A taxa de juros real é a taxa nominal descontada a inflação. "No caso do Brasil, a projeção média para a inflação para os próximos 12 meses caiu. Nesse cenário, é natural que a taxa real suba", diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Segundo Vieira, é relevante o fato de o país ter conseguido manter os juros reais abaixo dessa marca desde outubro mesmo diante de um forte movimento de afrouxamento monetário entre os países monitorados.
"O que importa é que o nosso distanciamento continua grande das primeiras colocações onde estivemos por décadas", diz.
A mistura de inflação controlada e juro baixo é o que permite ao país manter uma certa distância das primeiras posições: "É um cenário inédito, um caminho desconhecido", diz Vieira.
Esse movimento começou em meio a uma combinação de desemprego alto, baixo crescimento econômico, inflação controlada e avanço na agenda de reformas.
O Copom apontou, no entanto, que esse foi o último corte por enquanto, apesar de as previsões para a inflação permanecerem comportadas. No último Boletim Focus, a projeção de 2020 para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, caiu de 3,47% para 3,40%.
O Brasil chegou a ser líder absoluto em juros reais durante o ano 2015, quando a Selic estava no auge, a 14,25% ao ano. Hoje, fica atrás de oito países: México, Malásia, Índia, Indonésia, Rússia, Turquia, África do Sul e Singapura.
No mesmo ranking, a Argentina, que vinha ocupando o primeiro lugar como o maior juro real do mundo, despencou no fim do ano passado de primeiro para último lugar, após cortar sua taxa de juros referencial de 63% para 58%, em meio a esforços do novo governo para reanimar a economia.
Essa mudança brusca acontece porque, apesar da queda considerável na taxa, a inflação em 12 meses no país é prevista para ficar acima de 50%, deixando o resultado da subtração negativo, segundo Vieira.
Acima da Argentina, nos últimos lugares do ranking, estão Holanda, Hungria, Reino Unido, Áustria e Alemanha.