Economia

Mesmo com Selic a 2,25%, analisas dizem que novos cortes são possíveis

Em consenso com o mercado, Copom realizou nesta quarta-feira o 8º corte seguido na taxa básica de juros

BC: Selic atinge mínima recorde de 2,25% ao ano (Adriano Machado/Reuters)

BC: Selic atinge mínima recorde de 2,25% ao ano (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 18 de junho de 2020 às 07h34.

Última atualização em 18 de junho de 2020 às 07h37.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, para nova mínima recorde de 2,25% ao ano, em linha com consenso de mercado, deixando porta aberta para nova redução "residual".

Veja comentários de analistas de mercado:

LUIS BENTO, ANALISTA, RIO BRAVO

"Já esperávamos que o Copom deixasse a porta aberta para mais corte. Não faz sentido, em termos da condução da política monetária, se comprometer com o fim do ciclo dada a incerteza do cenário atual. Temos visto decréscimo nas expectativas de inflação para 2021, o que apareceu nos modelos do BC, então acreditamos que o mais provável é que a gente veja revisão nas expectativas para a Selic de 2021, com o mercado migrando para cenários de um aumento só ou mesmo de manutenção do juro no ano que vem. Estamos com maiores dificuldades para conter o vírus e isso, junto com o menor gasto fiscal em proporção do PIB para combater a pandemia, pode gerar alguma frustração sobre a velocidade da recuperação econômica e levar o BC a utilizar esse espaço para ajuste adicional na Selic. Projetamos juro de 2% até o fim de 2021. Para o dólar, vejo efeito líquido que corrobore a taxa de câmbio permanecer em todo de onde está."

ALBERTO RAMOS, DIRETOR DE PESQUISAS ECONÔMICAS PARA A AMÉRICA LATINA, GOLDMAN SACHS

No geral, a sinalização deixa a porta aberta para um potencial (dependente de dados) corte adicional, e menor, na próxima reunião (de 25 pontos-base ou mesmo de 50 pontos-base). O Copom considera que, com o corte para 2,25%, o estímulo monetário 'parece compatível com os impactos econômicos da pandemia da Covid-19'. Mas o Copom está longe de ter certeza de que é esse o caso, e o restante das orientações parece ter mudado a linha de base da agulha da política monetária para flexibilização adicional. O Copom agora passará para o modo de monitoramento e dependente de dados. [...] Isso é consistente com a observação de que 'o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno'."

CITI

"As taxas (de juros) de curto prazo não devem se mexer muito na esteira da decisão, embora a tendência permaneça de queda para os rendimentos. Seguimos vendidos no DI janeiro 2023, pois esperamos que o prêmio continue sendo retirado. O real ainda corre risco de ter desempenho mais fraco, embora o corte esteja como um todo nos preços. O câmbio é prejudicado por seu papel como moeda de financiamento e hedge durante períodos de força do dólar, bem como pelo agravamento da situação de pandemia no país. Os riscos para esse trade são incerteza e tensões políticas elevadas, fraqueza significativa no dólar e nas commodities, um BC hawkish e aversão global a risco.

RENAN SILVA, ECONOMISTA-CHEFE, BLUEMETRIX ATIVOS

"Particularmente, acreditava em corte de 0,5 ponto percentual, não pelo desaquecimento da economia --que é muito notório e que poderia justificar Selic de 1,5%, até 1%, até dezembro--, mas porque, na minha visão, as reduções teriam de ser um pouco mais gradualistas. Vejo que talvez a dose tenha sido um pouco intensa demais neste momento, até porque você pode ter algum ponto de inflexão com relação ao controle do surto ou até mesmo o surgimento de alguma solução efetiva, como um medicamento, anúncio de vacina, e ele (Copom) não colocaria todas as cartas na mesa. Por outro lado, pesam a atividade econômica e os números de desemprego. Acho que isso contribuiu para que os integrantes do Copom optassem por uma correção mais intensa. Acho que o caminho em direção a uma taxa Selic de 1,5% (ao fim do ano) é perfeitamente factível, mas mudou na medida em que agora vou apostar em cortes mais residuais."

CARLOS PEDROSO, ECONOMISTA SÊNIOR, BANCO MUFG BRASIL

"Eu diria que a porta está entreaberta para mais redução do juro. O BC colocou o fiscal como parte central da decisão futura de política monetária. Com isso, minha avaliação é que ele não vai cortar. Os dados da pandemia continuam a piorar, com certeza as medidas emergenciais serão estendidas. O impacto fiscal dessas ações vai se ampliar. Não haverá melhora na preocupação do mercado sobre isso. Vemos Selic estável em 2,25% até o fim do ano. O impacto da sinalização do BC sobre o câmbio acredito que será neutro."

BRENO BONANI, SÓCIO E ANALISTA, VGR ASSET

"A gente também estava contando que podia haver alguma surpresa, mas até então estávamos precificando que seria um corte de 0,75 p.p. e o Banco Central viria com um tom mais 'dovish', o que parece que ocorreu mesmo (pelo comunicado), ainda que tenha sinalizado que (o próximo corte) fica mais incerto e deve ser pequeno --se houver. Um dos problemas é que o Brasil ainda está na primeira onda (de casos do coronavírus), e a gente já começou uma discussão sobre uma segunda onda em outros países." O Banco Central vai continuar preocupado em relação aos dados da atividade econômica, além dos desafios que o impacto do câmbio está trazendo para a economia."

LUCAS CARVALHO, ANALISTA, TORO INVESTIMENTOS

"Pelas condições de hoje, pode ser que haja, sim, novo corte da Selic (em 5 de agosto), de 0,25 ponto percentual. Mas há muitas incertezas: embora os dados da economia estejam vindo ruins, o mercado tem olhado bastante para a questão fiscal. Nos ativos financeiros, acredito que o impacto de corte adicional da Selic já aconteceu, e a alta do Ibovespa e do dólar hoje em parte mostram isso."

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