Mãe com filho em Campo Grande (MS): 52% das mães com filhos pequenos perderam renda na pandemia (Bruna Prado/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 11 de agosto de 2020 às 16h37.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 17h55.
Mesmo com o auxílio emergencial, famílias brasileiras perderam parte da renda na pandemia do novo coronavírus. E um novo estudo mostra que o impacto foi ainda maior para parte das mães e mulheres.
A startup Famivita, que vende vitaminas e suplementos naturais para mulheres, sobretudo as que desejam engravidar, realizou uma pesquisa com 7.500 mulheres em seu site, entre 27 e 28 de julho.
A perda de renda e trabalho para as mães foi relativamente maior na pesquisa do que para as mulheres sem filhos. Entre as mães com filhos pequenos, 39% perderam o emprego e 52% perderam renda. As mães foram 16% mais demitidas e suas famílias perderam 21% mais renda do que a média das mulheres ouvidas.
O estudo leva em conta não só a renda direta obtida pelas mulheres, mas renda de outros membros da família à qual elas tinham acesso. Assim, a redução da renda ou perda do emprego no restante da família também impacta os números.
Mesmo antes da pandemia, as mães já estavam menos presentes no mercado de trabalho: cerca de metade das respondentes no estudo tinha um emprego antes do começo da crise. A ausência de metade das mães do mercado vai desde opção própria das mulheres como a dificuldade de reinserção delas nos empregos após o parto, como mostram outros estudos.
O estudo também mostra que, sem o auxílio emergencial de 600 reais fornecido a adultos com renda baixa durante a pandemia, o cenário seria ainda pior. Quase metade (46%) das mulheres entrevistadas responderam que receberam o auxílio emergencial.
As mulheres também receberam mais o auxílio na comparação com os homens. A pesquisa identificou ainda que 57% das famílias com filhos pequenos recebeu o auxílio. Além da renda, o governo também dobrava o auxílio no caso de mulheres chefes de família -- de 600 reais para 1.200 reais.
Os dados apontam que a perda de emprego e renda por parte das mulheres é ainda desigual em todo o país. Os estados do Norte e do Nordeste foram os lugares onde as mulheres mais perderam os empregos. O líder neste triste ranking é o Amazonas, onde 61% das mulheres perdeu o emprego.
O lugar onde as mulheres menos perderam emprego dentre as entrevistadas foi em Santa Catarina (com 28% das mulheres tendo perdido o trabalho). Ainda assim, metade delas perdeu renda. O cenário é parecido em outros estados do Sul e do Sudeste. No Rio Grande do Sul, 31% perdeu emprego e 51% perdeu renda. Em São Paulo, 33% perderam o emprego e 49% a renda.
"O que chama atenção é que, embora em alguns estados os empregos tenham sido parcialmente mantidos, ainda assim houve uma grande perde de renda mesmo nesses lugares", diz Caroline Virgilli, uma das organizadoras do estudo e responsável por marketing e conteúdo na Famivita, que tem mais de 50.000 clientes utilizando seus produtos de fertilização natural, que podem ser vendidos sem receita. A startup produz estudos e pesquisas com conteúdo relacionado à maternidade.
A saída das mulheres do mercado de trabalho em meio à pandemia é um dos fatores mais preocupantes em meio à crise, e a divisão desigual das tarefas pode também impactar as mulheres no mercado de trabalho formal.
Muito do trabalho realizado pelas mulheres no Brasil não é remunerado. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) sobre Outras Formas de Trabalho 2019, divulgada em julho deste ano, apontou que a mulher tem peso importante no Brasil, sobretudo no que se refere a afazeres domésticos, enquanto a produção para consumo próprio é atividade mais masculina.
É o que o estudo chama de "trabalho invísvel". As mulheres se dedicam cerca de 20 horas semanais a esse tipo de atividade, como cuidar da casa e dos filhos.
No ano passado, 92% das mulheres realizaram serviços domésticos, ante quase 79% dos homens, segundo o IBGE. A maior diferença na realização de afazeres domésticos entre homens e mulheres foi nas regiões Nordeste e Norte. A região Sul apresentou o maior percentual de homens no serviço doméstico (84%). A realização de afazeres domésticos é maior por parte de homens mais jovens e com ensino superior completo.
(Com Agência Brasil)