O Brasil tem pedido que a Europa estabilize o euro antes que o FMI possa aumentar seu próprio capital (Sean Gallup/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2012 às 10h54.
Hannover - A chanceler alemã, Angela Merkel, disse nesta terça-feira ter recebido garantias da presidente Dilma Rousseff de que o Brasil participará de uma recapitalização do Fundo Monetário Internacional (FMI), o que por sua vez poderia ajudar a reforçar os fundos anticrise para a zona do euro.
As duas líderes, que participaram em Hanover da abertura da feira de tecnologia CeBIT, disseram ter discutido também a preocupação brasileira de que uma enxurrada de dinheiro barato das nações industrializadas, incluindo as operações de liquidez do Banco Central Europeu (BCE), prejudicava países como o Brasil por levar a uma valorização excessiva de suas moedas.
Merkel disse que Dilma se mostrou preocupada com um "tsunami de liquidez", mas que ela assegurou à presidente brasileira que essas medidas são de curto prazo e têm a intenção de ajudar países endividados da zona do euro a realizarem reformas.
"Deixei claro que se trata de uma medida temporária", disse Merkel na entrevista coletiva conjunta.
Quanto à recapitalização do FMI, Merkel disse que Dilma sinalizou a disposição do Brasil em contribuir. "A presidente disse que o Brasil vai participar do refinanciamento de forma proporcional à sua quota", disse a chanceler.
O Brasil tem cobrado da Europa uma estabilização do euro antes que o FMI possa ampliar o seu próprio capital e liberar mais verbas para países europeus endividados, como a Grécia.
Dilma afirmou que o país tem sido favorável ao aumento de capital do FMI e a uma maior participação do Brasil desde a reunião do G20 em Cannes, na França, em novembro.
A presidente vinculou ações comerciais defensivas do Brasil a uma ameaça cambial decorrente das operações de estímulo à liquidez no exterior.
Com mais dinheiro sobrando no mundo, o Brasil atrai mais capital com seus juros elevados, e isso causa uma valorização do real e uma perda de competitividade dos exportadores brasileiros, além de uma inundação de produtos importados no mercado interno.
Mas Merkel alertou que a solução não está no protecionismo, e sim no aprofundamento da confiança entre as economias do G20. Na semana passada, a chanceler disse que a Europa está empenhada em evitar a criação de bolhas de liquidez.
Tentando estancar a valorização do real, que já atinge 7 por cento neste ano, o governo brasileiro ampliou na semana passada a taxação sobre empréstimos do exterior, e o Banco Central tem comprado dólares à vista e feito operações de swap cambial reverso.
Usina nuclear
Merkel disse que não houve por enquanto a aprovação de garantias de crédito para exportações alemãs relacionadas à construção de um terceiro reator na usina atômica de Angra dos Reis (RJ).
O projeto, lançado há mais de duas décadas, mas depois suspenso até 2010, originalmente envolvia a empresa alemã Siemens, mas agora está sendo comandado pelo grupo nuclear francês Areva.
Após a dramática guinada de Merkel na política nuclear alemã, reagindo ao desastre na usina japonesa de Fukushima, parte da imprensa local disse ser surpreendente que Berlim continuasse cogitando a concessão de crédito para um projeto nuclear brasileiro.
Mas o ministério alemão da Economia afirmou na segunda-feira que uma reavaliação do projeto de Angra-3 para a concessão das garantias de crédito ainda está por ser concluído neste mês, e levará em conta os procedimentos brasileiros de licenciamento e as lições tiradas da crise japonesa.
"A avaliação vai levar em conta os seguintes aspectos: segurança contra terremotos, inundações, abastecimento energético e resfriamento, planos de emergência, possibilidades de retirada de pessoas e questões sobre deslizamentos de terra", disse uma porta-voz ministerial.