Economia

Mercados emergentes em 2013: o fim de um futuro promissor?

Os emergentes deixaram de ser, em 2013, a promessa do futuro promissor para a economia mundial

Da esquerda para a direita: os chefes de Estado do Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul: há anos, a economia mundial se apoiou neles (Sergei Karpukhin/AFP)

Da esquerda para a direita: os chefes de Estado do Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul: há anos, a economia mundial se apoiou neles (Sergei Karpukhin/AFP)

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Da Redação

Publicado em 26 de dezembro de 2013 às 12h34.

Paris - Os países emergentes deixaram de ser, em 2013, a promessa do futuro promissor para a economia mundial: desaceleração do crescimento, mercados financeiros e cambiais instáveis e conflitos sociais se transformaram em uma fonte de temores, talvez exagerados.

Em novembro, o clube de reflexão dos países ricos, a OCDE, resumiu a situação: o crescimento mundial será mais frágil por causa da desaceleração nos países emergentes e "o entorno econômico mundial pode servir de amplificador e de corrente de transmissão para os impactos negativos" procedentes desses países.

Há anos, a economia mundial se apoiou neles: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os chamados BRICS.

Seu forte crescimento compensava a estagnação dos países desenvolvidos, seus mercados internos, em plena expansão, alimentavam o apetite dos grandes grupos ocidentais, seus baixos custos de produção estimulavam o comércio mundial e suas reservas de divisas lhes permitiam financiar o endividamento ocidental.

Contudo, 2013 marcou uma pausa. Esses países perderam parte de seu brilho, sendo considerados com olhos talvez mais lúcidos.

"Esperávamos isso há um tempo, mas ficou mais claro" em 2013, declarou à AFP, Jennifer Blanke, chefe de economistas do World Economic Forum (WEF).

Segundo o economista Chris Weafer, sócio da consultoria Macro Advisory, com sede em Moscou, esta "mudança de atitude em relação aos emergentes", era "necessária e tinha sido adiada durante tempo demais", por investidores iludidos e até "complacentes".

Para começar, em vários grandes países emergentes, o crescimento desacelerou liquidamente: na Rússia, na África do Sul, mas, principalmente, no primeiro deles, a China.

A economia brasileira se contraiu 0,5% no terceiro trimestre de 2013, em relação ao segundo, a primeira queda do PIB desde o trimestre inicial de 2009.

"O Brasil é a incógnita da equação. O risco de 'estagflação', uma fase de estagnação econômica somada à inflação, é muito elevado", afirma Christian Déséglise, especialista em economias emergentes do HSBC e professor da Universidade da Columbia.


"Os dirigentes brasileiros não reformaram, quando era fácil fazê-lo, um país com rigidez estrutural, onde é muito alto o custo de investir e contratar", acrescenta.

O banco espanhol BBVA identifica como "fator de risco" a nível internacional "o ajuste (para baixo) do crescimento da China e de outras economias emergentes".

Segundo o Banco Central Europeu "qualquer ajuste importante ou desordenado nas economias emergentes deve ser acompanhado de perto, levando em conta os riscos de um impacto mais forte e durável na zona do euro".

"Os investidores imaginavam que a China continuaria crescendo a uma taxa de 8 a 9% ao ano. Isso é impossível a longo prazo", explicou Weafer à AFP. O objetivo oficial do crescimento de Pequim para 2013 é de 7,5%.

Apesar de tudo, "nos tranquilizamos porque alguns falavam de uma aterrissagem mais brusca" da economia chinesa, que tivesse consequências mais graves, destaca Blanke.

"Vários países se tornaram dependentes" do crescimento chinês, destaca o banco suíço UBS em uma nota sobre as perspectivas de investimento em 2014.

"O crescimento dos investimentos chineses alimentou a demanda de matérias primas e sustentou várias economias como as do Brasil ou da Austrália", disse o banco suíço, que alerta que "não há China depois da China". Em outras palavras, não haverá outra superpotência com um crescimento de dois dígitos, capaz de substituir a China como motor da economia mundial.

A esta desaceleração se soma um segundo fator de risco: a instabilidade financeira. Este verão, bolsas e divisas de vários emergentes foram afetadas pelo maciço refluxo de capitais provocado pela perspectiva de que o Federal Reserve norte-americano ponha fim a sua política de estímulo monetário.

Além disso, vários grandes grupos norte-americanos e europeus registraram fortes perdas financeiras como consequência dos efeitos da alta das taxas de câmbio.

Finalmente, a instabilidade social é outro fator de risco, "como o que aconteceu recentemente no Brasil ou na África do Sul, com gente que exige uma maior parte do bolo, porque não experimentam uma melhoria (em sua qualidade de vida) tão rapidamente como desejariam", considera Blanke.

É "um risco muito grande e acredito que esses países são conscientes disso", disse a analista, apesar de admitir que vários deles não aproveitaram os anos de opulência para adotar as reformas necessárias.

"Um governo deve escutar a voz das ruas. Um governo não pode se isolar em si mesmo", reconheceu, no final de novembro, ao jornal El País, a presidente Dilma Rousseff.

Contudo, esses países continuam sendo um motor essencial da economia mundial. "A abundância do final da última década durou muito e manteve as expectativas muito elevadas (...) acredito que, agora, a percepção contrária vai muito longe", alerta Weafer.

"Ninguém duvida que esses países continuarão crescendo", disse Blanke. Suas "classes médias em expansão (...) serão uma fonte importante de demanda para muitos bens e serviços das economias avançadas", projeta.

"São um fator de risco, mas são também nossa única oportunidade", conclui.

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