Economia

Mercado vê sinais de "independência" na Petrobras

Entretanto, isso não será o suficiente para enfrentar o cenário turbulento na economia e na empresa, segundo especialistas do mercado


	Petrobras: eles avaliam que a petroleira precisa acelerar o plano de desinvestimentos, além de cortar ainda mais seus custos e seus investimentos planejados
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Petrobras: eles avaliam que a petroleira precisa acelerar o plano de desinvestimentos, além de cortar ainda mais seus custos e seus investimentos planejados (Dado Galdieri/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2015 às 16h18.

Rio de Janeiro - Ao reajustar o preço da gasolina e do diesel, a Petrobras surpreendeu o mercado, trouxe um alívio para o caixa da empresa e deu sinais de independência, já que o aumento será aplicado em um momento de forte inflação e sem que houvesse pressão pública sobre o governo.

Entretanto, isso não será o suficiente para enfrentar o cenário turbulento na economia e na empresa, segundo especialistas do mercado.

Eles avaliam que a petroleira precisa acelerar o plano de desinvestimentos, além de cortar ainda mais seus custos e seus investimentos planejados. Novos reajustes também poderão ser necessários.

O mercado não esperava no curto prazo o reajuste de preços de 6 por cento na gasolina e de 4 por cento no diesel, em vigor a partir desta quarta-feira, devido às preocupações com a inflação e à possibilidade de um aumento da (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), na avaliação do Itaú BBA.

Para o banco, o anúncio "é uma indicação positiva para a independência".

"Além disso, foi a primeira vez que houve um aumento de preços sem uma grande expectativa por parte da imprensa", afirmou o analista do Itaú BBA, Diego Mendes, em um relatório.

Clareza e independência estão entre as cobranças feitas à diretoria da estatal pelo atual Conselho de Administração da Petrobras.

Em meio a discordâncias, o presidente do Conselho, Murilo Ferreira, tirou licença em setembro, condicionando seu retorno a uma mudança de postura da direção em relação a temas que incluem o reajuste de preços, disse uma fonte à Reuters anteriormente.

Segundo Mendes, do Itaú BBA, a rápida deterioração do balanço da empresa, impactado pela depreciação do real ante ao dólar, acabou forçando a empresa a elevar os valores do diesel e a gasolina, como forma mais rápida para melhorar a geração de caixa.

O Itaú BBA e o BTG Pactual calculam que o reajuste vai adicionar 6 bilhões de reais ao ano ao Ebitda, mas consideram que é apenas um primeiro passo para melhorar o fluxo de caixa.

"A apresentação de um novo plano de negócios crível, em linha com o cenário atual, e efetivamente entregar as medidas propostas são necessárias para restaurar a confiança do mercado", afirmou Mendes, do Itaú BBA.

O Conselho de Administração da petroleira está reunido nesta quarta-feira e pode discutir uma eventual revisão do plano de investimentos.

As ações preferenciais da Petrobras mantinham por volta das 15h15 a forte alta da abertura, avançando cerca de 8,5 por cento, enquanto o Ibovespa tinha valorização de 1,6 por cento.

Marginalmente positivo

A agência de classificação de risco Fitch afirmou em nota nesta quarta-feira que a Petrobras deverá manter-se sob a pressão da desvalorização do real e da queda dos preços do petróleo, apesar do reajuste.

"O aumento de preços é marginalmente positivo, pois demonstra a capacidade da Petrobras de ajustar os preços para cima, mesmo durante períodos de recessão econômica no país e declínio dos preços do petróleo no exterior", ponderou.

A Fitch acredita que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) deverá cair para um valor anualizado de 23,5 bilhões de dólares no segundo semestre, ante 27,9 bilhões de dólares no primeiro, considerando à taxa de câmbio atual de cerca de 4 reais por dólar e os aumentos de preços anunciados na terça-feira à noite.

Novas medidas necessárias

Para o BTG Pactual, a decisão de reajustar os preços, mesmo com preço acima da paridade, "é positiva e dá um pequeno fôlego e algum tempo para companhia tomar as decisões que realmente podem fazer diferença: como corte de custos e venda de ativos".

"Não é uma melhoria de, digamos, 'alta qualidade', pois as questões estruturais continuam existindo, mas é uma pequena (e inesperada) ajuda", afirmou o BTG, em nota a clientes.

Nos cálculos do BTG, com os aumentos, o preço da gasolina fica 6 por cento acima da paridade e o do diesel 16 por cento, considerando um câmbio de 1 dólar por 4,06 reais.

Já a Planner Corretora calcula que o diesel na refinaria está sendo vendido agora 10,6 por cento mais caro que no exterior e a gasolina em 5,9 por cento.

Cálculos da corretora apontam para uma elevação de 2,2 por cento da receita da Petrobras, ou cerca de 8 bilhões de reais em termos anuais, devido ao aumento de preços.

Entretanto, a corretora ressaltou que a empresa tem uma enorme dívida, com forte contribuição de preços defasados entre 2011 e 2014.

Segundo a Planner, com a valorização do dólar, os custos financeiros da empresa serão ainda maiores, principalmente no terceiro trimestre de 2015, quando o real já perdeu 33 por cento de seu valor até terça-feira.

O Goldman Sach calcula que o atual preço dos combustíveis da Petrobras refletem um petróleo tipo Brent implícito de 50 dólares por barril e uma taxa de câmbio de 3,98 reais o dólar.

O impacto potencial positivo no fluxo de caixa da empresa, segundo o Goldman, é de 1,3 bilhão de reais para cada 1 por cento de aumento dos preços dos combustíveis.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCombustíveisEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEmpresas italianasEstatais brasileirasGás e combustíveisGasolinaIndústria do petróleoÓleo dieselPetrobrasPetróleo

Mais de Economia

Senado aprova em 1º turno projeto que tira precatórios do teto do arcabouço fiscal

Moraes mantém decreto do IOF do governo Lula, mas revoga cobrança de operações de risco sacado

É inacreditável que Trump esteja preocupado com a 25 de Março e Pix, diz Rui Costa

Tesouro: mesmo com IOF, governo precisaria de novas receitas para cumprir meta em 2026