BC: o banco pode dar algum sinal de que pode desacelerar o ritmo de cortes nas reuniões seguintes (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 21 de julho de 2017 às 17h33.
São Paulo - É praticamente um consenso no mercado que o Banco Central, em sua reunião do Copom, deve cortar novamente a Selic em 1 pp na próxima quarta-feira, 26, levando o juro básico a 9,25%, na casa de um dígito pela primeira vez desde outubro de 2013 e no menor patamar desde agosto daquele ano.
São também grandes as chances, na visão dos analistas, de que o BC dê algum sinal de que pode desacelerar o ritmo de cortes nas reuniões seguintes, com o ciclo de afrouxamento monetário chegando perto do fim - no mais tardar, no começo de 2018.
As condições cada vez mais benignas da inflação e a constatação de que crise política não trouxe choques ao câmbio nem às expectativas inflacionárias levam analistas a considerar que o BC tende a deixar para trás a ideia expressa no último comunicado do Copom de que uma redução moderada do ritmo de flexibilização seria adequada para esta reunião.
Um pouco dessa mudança de visão já pôde ser observada na divulgação do último Relatório Trimestral de Inflação, publicado ao final de junho, quando a percepção dos analistas foi de que o BC já deixara a porta aberta para a repetição de corte de 1 pp na Selic em julho.
A visão no mercado é de que houve mudanças no cenário desde então principalmente no que diz respeito ao impacto da cena política sobre ativos e expectativas inflacionárias, enquanto a inflação seguiu surpreendendo para baixo e a atividade mostra apenas uma recuperação incipiente.
Tal percepção não foi alterada pelo aumento de imposto sobre combustíveis anunciado na quinta-feira pelo governo, justamente porque a inflação em 12 meses estava abaixo de 3% - ou seja, há espaço para absorver sem maiores riscos um impacto de cerca de 0,50 pp do reajuste no índice em 2017.
As expectativas inflacionárias estão bem ancoradas, o mercado aprova o foco do governo em manter a meta fiscal - de déficit de R$ 139 bi em 2017 - mesmo que para isso tenha optado pela alta de impostos, e até o esvaziamento da expectativa de uma reforma da Previdência mais robusta não causou maiores danos aos ativos, diferentemente do que se poderia supor há um ano.
Para corroborar a tese, os últimos movimentos do mercado, a partir da aprovação da reforma trabalhista pelo Senado, da condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Sergio Moro, acrescentando dificuldades à candidatura petista para 2018, e da rejeição da CCJ em prosseguir com a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer levaram ativos a patamares vistos antes da delação da JBS. Caso do dólar, que fechou a quinta-feira abaixo de R$ 3,13, no menor patamar desde 16 de maio.
Andamento desde a última reunião do Copom "indica fortemente" que corte será de 1 pp em julho, diante de quadro inflacionário "extremamente benigno", sem ameaça imediata para inflação, e com Brasil em algum ponto "entre a recessão e a recuperação", diz Tony Volpon, economista-chefe do UBS e ex-diretor do BC.
Número crescente de instituições vem reduzindo as projeções para Selic ao final do ciclo, com chances de o juro básico terminar o período de afrouxamento monetário abaixo de 8%. Nesta sexta-feira, foi a vez do Itaú, o maior banco privado do país, rever estimativa para Selic ao final do ciclo justamente para 7%, taxa idêntica à projetada pelo banco Safra. BNP Paribas, Pine e Quantitas Gestão de Recursos estão com 7,5%, enquanto JPMorgan vê Selic terminal a 8%.
Tendências que vinham ocorrendo antes da crise continuam, atividade estabilizando na margem, sem indicar recuperação muito rápida, cenário internacional benigno e surpresas de inflação para baixo, diz Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.
Para David Beker, chefe de economia e estrategista do BofAML para Brasil, é prudente o BC sinalizar uma redução de passo. E, se houver espaço, a autoridade monetária poderia repetir corte de 1 pp na próxima reunião.