Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central: previsão do mercado é de manutenção dos juros (Germano Lüders/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 30 de julho de 2018 às 12h58.
Última atualização em 30 de julho de 2018 às 13h03.
São praticamente nulas as chances de aperto monetário pelo Copom nesta semana, segundo precificação extraída da curva de juros e, desta vez, discursos de economistas e operadores são coincidentes, ao contrário do que foi visto antes da reunião anterior.
Um mercado pacificado em relação aos passos da política monetária espera que o Copom, nesta quarta-feira, mantenha a Selic inalterada em 6,5% e que o juro básico permaneça assim ainda por um bom tempo, pelo menos até o final do ano, mas sem que o BC ofereça sinais precisos do que fará adiante.
Trata-se de uma mudança e tanto em relação ao período que antecedeu a reunião de 20 de junho, quando um mercado disfuncional chegou a levar o dólar para perto de R$ 4,00, os juros futuros dispararam e BC e Tesouro empreenderam atuações pesadas com swaps cambiais e títulos para acalmar os ânimos.
Foi necessário um arsenal de instrumentos para fazer valer o recado da autoridade de que não há relação mecânica entre política monetária e cambial, e que o BC toma decisões sobre juros considerando efeito secundário de choques sobre a inflação.
Agora, a situação é outra. O exterior ainda traz volatilidade para emergentes, mas o estresse anterior foi suavizado. O dólar fechou no menor nível em dois meses no último dia 25, cotado a R$ 3,6911.
O mercado também não se abalou nem mesmo quando os índices de inflação mostraram os efeitos da greve de 11 dias dos caminhoneiros, com a certeza de que o impacto seria temporário. Os últimos dados, inclusive, mostram que este impacto já está se dissipando.
Ao mesmo tempo, a fragilidade da recuperação econômica inibe o pass-through do câmbio e não autoriza visões de pressões inflacionárias que possam comprometer as metas de inflação, de 4,5% para 2018 e de 4,25% para 2019. Estimativa do mercado é de inflação de 4,11% em 2018 e 4,10% em 2019, apontou a Focus de 23 de julho.
Ainda assim, o comunicado do Copom deve se abster de dar indicações mais precisas sobre próximos passos da política monetária, dizem os analistas.
"Balanço de riscos não mudou: taxa de câmbio está em R$ 3,70, abaixo até do que chegamos a ver em junho e na última decisão do Copom, e a atividade econômica continua dentro da avaliação da última reunião, considerada como em recuperação, mas em ritmo mais lento que o esperado", disse Tatiana Pinheiro, economista do Santander.
Tais fatores, associados aos efeitos inflacionários dissipados da greve dos caminhoneiros, apontam que a avaliação do BC não será alterada e a comunicação deve ser semelhante à da reunião anterior, em que ele se colocou como dependente dos dados de atividade, inflação e atento ao cenário externo, disse ela.
Para Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, a reunião do Copom será “tranquila" e o BC não precisará tomar nenhuma atitude. “A inflação mostrou que já teria aquela corcova pela greve dos caminhoneiros, e os números mostraram que era só uma corcova. As expectativas estão bem ancoradas."
Segundo Figueiredo, "na medida do possível, o BC não deveria se mexer em período de eleição, que é um período político sensível". A comunicação não vai ser assertiva, disse ele, “mas não há razão para acharmos que haverá alta de juros neste ano”.
Segundo o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, “há evidências de que a paralisação dos caminhoneiros resultou em pressão apenas temporária sobre os níveis de preços e que a depreciação do real não está gerando efeitos secundários relevantes até o momento”, conforme escreveu em relatório do banco.
“Com o choque se dissipando, o que permanece como pano de fundo para o cenário de inflação é o ritmo de recuperação da economia, que se tornou mais lento após os acontecimentos recentes, em especial o aperto das condições financeiras.”
Assim como Selic deve ser mantida em 6,5% nesta reunião, aumentos de juros são improváveis nas reuniões seguintes, em um “contexto de crescimento lento, elevado nível de capacidade ociosa na economia e expectativas de inflação estáveis em níveis consistentes com as metas”, salvo diante de novos e significativos choques, segundo o relatório do banco. Cenário base do Itaú é de que Selic permanecerá estável em 6,5% até o fim do ano.
Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, disse que BC e Tesouro tiveram atuações importantes para diminuir o estresse no câmbio. Entretanto, o ambiente ainda é desafiador para emergentes, com juros em alta nos EUA, idas e vindas na guerra comercial, além das incertezas internas com as eleições. “Copom não dará uma sinalização, deixará em aberto.”
Ela acredita que a Selic será mantida em 6,5% pelo menos até as eleições, porque o resultado do pleito deve afetar muito o câmbio, para um lado ou para o outro, na medida em que prevê um embate entre um candidato pró-reformas e outro contrário a elas.
Se vencer alguém contra as reformas, o efeito secundário do câmbio sobre a inflação “é mais provável” e aí BC poderia até elevar os juros em dezembro.