Todos os setores registraram saldos positivos ao longo do ano. No entanto, em dezembro, houve fechamento de 535,5 mil vagas devido à sazonalidade, afetando principalmente serviços e indústria
Redação Exame
Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 06h02.
Por Lucas Assis*
A PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – IBGE) evidenciou, ao longo de 2024, o fortalecimento do mercado de trabalho brasileiro, em meio à resiliência da atividade econômica.
A demanda por mão de obra superou a oferta e, com isso, a pressão salarial resultou em aumentos consecutivos no rendimento real habitual, cuja dinâmica, somada à ampliação da ocupação, gerou efeitos positivos sobre a massa de rendimento real habitual e o consumo das famílias.
A taxa de desocupação anual média de 2024 alcançou 6,6%, menor índice desde o início da série histórica, em 2012, e 6,2% no trimestre móvel encerrado em dezembro, devido à sazonalidade favorável das contratações temporárias no período.
A diminuição da desocupação decorreu do aumento na população ocupada, impulsionado pela maior oferta de vagas em resposta ao aquecimento econômico, refletindo a ampliação da inserção no mercado de trabalho e não desistência na busca por vagas.
A população ocupada cresceu 2,6% na média anual e 2,8% em relação ao mesmo período do ano anterior no trimestre móvel até dezembro, o que representa um recorde na série histórica.
Frente ao trimestre móvel final de 2023, destacaram-se os avanços nos segmentos de administração pública, defesa, educação e saúde (+3,8%), comércio e reparação de veículos automotores (+2,8%) e informação e atividades financeiras (+3,7%).
O nível de ocupação alcançou 58,6% na média de 2024, maior patamar desde o início da série, impulsionado principalmente pelo trabalho formal. Os dados do Novo Caged de dezembro confirmaram a desaceleração no final de 2024, mas o ano teve saldo positivo no emprego formal, impulsionado pela demanda interna.
Foram criados 1,69 milhão de postos de trabalho com carteira assinada, um aumento de 16,5% em relação a 2023. O estoque de vínculos celetistas atingiu 47,2 milhões, sendo 10,5% não típicos (aprendizes, intermitentes, temporários etc.).
Todos os setores registraram saldos positivos ao longo do ano: o setor de Serviços registrou aumento de 929 mil vagas, o Comércio mostrou alta de 336,1 mil, a Indústria de 306,9 mil, a Construção de 110,9 mil e a Agropecuária de 10,8 mil. No entanto, em dezembro, houve fechamento de 535,5 mil vagas devido à sazonalidade, afetando todos os setores, com destaque para Serviços (-257,7 mil) e Indústria (-116,4 mil).
Para 2025, projeta-se desaceleração no ritmo de crescimento da ocupação, acompanhando a moderação dos setores cíclicos devido ao impacto acumulado da elevação dos juros.
A deterioração das condições financeiras deverá reduzir a demanda por mão de obra, pois os empregadores demonstram maior cautela ao expandir suas folhas salariais.
A aceleração da ocupação acompanha movimento semelhante, porém mais moderado, na força de trabalho, atenuando quedas mais acentuadas na desocupação. Nos últimos anos, a retração da força de trabalho afetou principalmente mulheres, jovens e menos escolarizados.
A previsão é de manutenção da desocupação em níveis baixos em 2025, o que pode intensificar a escassez de mão de obra, ampliando o poder de barganha dos trabalhadores, elevando custos produtivos e pressionando os preços.
Com a baixa ociosidade no mercado de trabalho, o rendimento real habitual aumentou 3,7% na média de 2024 e 4,3% em relação ao mesmo período do ano anterior no trimestre móvel até dezembro. Já a combinação entre o crescimento da população ocupada e do rendimento real habitual resultou em uma elevação de 6,5% na média de 2024 e 7,4% no trimestre móvel até dezembro.
A expansão econômica favoreceu a transição para empregos melhores, promovendo ganhos salariais para novos contratados. A política de valorização do salário mínimo e o avanço no perfil educacional dos trabalhadores também contribuíram para o crescimento dos rendimentos.
Para 2025, espera-se desaceleração no crescimento do rendimento real, diante dos desafios relacionados à baixa produtividade, inflação acima da meta e efeitos da sobre-educação. Ainda assim, o crescimento deve superar o da população ocupada, sustentando a massa de rendimento real habitual.
*Lucas Assis é analista da Tendências Consultoria