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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h26.
Os títulos vinculados a índices de inflação têm atraído muito interesse nos últimos tempos. "Há alguns meses, o investidor conseguia comprar um título corrigido pelo IGP-M que pagava juros de 9% ao ano, e hoje esse prêmio encolheu para 5% ao ano", diz Marco Sudano, diretor executivo da empresa de administração de recursos do Unibanco. O mercado financeiro acredita que o novo presidente deverá orientar a política econômica para privilegiar o crescimento e não a estabilidade de preços. "Por isso há uma grande convicção de que a inflação pode subir no ano que vem", diz Sudano. Essa expectativa gera outra, a da alta da taxa básica de juros, o que explica, por exemplo, o sucesso do leilão de hoje (5/11) em que o Tesouro Nacional vendeu todos os títulos indexados à Selic.
Como investimento, esses papéis só são recomendáveis para quem não tem pressa. "No curto prazo, até o fim do ano, o investidor pode ganhar mais com aplicações corrigidas pelo CDI", diz Robert Van Djik, diretor executivo da empresa de administração de recursos do Bradesco. No longo prazo, o investidor deve evitar o dólar, que já está excessivamente valorizado, e prestar atenção nos preços das ações. "Há papéis de excelentes empresas que estão muito baratos", diz Van Djik. "Nada impede que os preços não caiam mais no curto prazo, mas quem acreditar em um crescimento da economia nos próximos anos pode encontrar ações atrativas." Mesmo com a ressalva de que ações são uma aplicação de risco, Van Djik diz que papéis de empresas exportadoras pouco endividadas podem apresentar um bom desempenho.
O Tesouro vendeu nesta terça-feira todos os títulos públicos que pretendia, apesar de ter recusado as altas taxas pedidas pelo mercado e de ter negociado apenas papéis pós-fixados. "O mercado pediu taxas muito elevadas para os prefixados, mas o BC não aceitou. Eu acho que isso sinaliza que, ao menos no curto prazo, ele não pretende elevar os juros", avaliou um operador de renda fixa de uma corretora paulista.
De acordo com o Banco Central, que realiza o leilão em nome do Tesouro, foram negociados 4,5 milhões de Letras Financeiras do Tesouro (LFT, pós-fixadas pela Selic) com vencimentos em 18 de dezembro próximo, em 19 de fevereiro de 2003 e em 18 de junho do próximo ano. Também foram leiloados 6,5 bilhões de reais em Letras do Tesouro Nacional (LTN, pré-fixadas) - de um total de 13,36 bilhões pretendidas - que vencem nesta quarta-feira, data da liquidação financeira do negócio.
Não é apenas o governo que aproveita o momento para captar recursos aproveitando-se da inflação. Vários bancos já lançaram fundos de investimentos indexados ao índice. O Citi Group Asset Management lançou um fundo de investimento - O Citi Inflation - indexado ao Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M). Em um dia, o fundo captou 4,8 milhões de reais. "Com a alta da inflação das últimas semanas, a demanda pelo fundo, que já existia para cotistas qualificado desde 2001, por investidores comuns aumentou muito", disse José Domingos Ruiz, diretor do Citi. O novo fundo terá retorno com a inflação, além de uma remuneração adicional com juros do mercado. A média de retorno do investidor está calculada em 2,7 anos - longo prazo, portanto.
Segundo Ruiz, 95% da carteira será composta por títulos públicos e privados indexados ao IGP-M. O 5% restante pode não estar atrelado ao índice e servirá para promover liquidez ao fundo. A taxa de manutenção custará 2% ao ano e a aplicação mínima é de 10 mil reais.
O JP Morgan Fleming Asset Management também anunciou seu fundo de investimento indexado ao IGP-M (o JPMorgan Price FIF). Com taxa de administração de 0,75% ao ano e aplicação mínima de 50 mil reais. O fundo tem em carteira apenas títulos públicos federais, dos quais 90%, no mínimo, são indexados ao IGP-M. O fundo também pode investir em papéis que, em operações conjugadas com derivativos, obtenham rentabilidade atrelada ao indicador. O fundo tem patrimônio líquido de 6,6 milhões de reais.
Inflação
O consenso de mercado para o IPCA de 2003, apurado semanalmente pelo Banco Central, elevou-se de 7,1% (em 25/10) para 8,2% (em
1/11), contra o limite superior de 6,5% para a meta de inflação de 2003 estabelecida com o FMI (Fundo Monetário Internacional). "As altas expectativas de inflação para 2003 desde o início de outubro (+5,53%) devem-se à mudança de percepção dos agentes econômicos sobre a depreciação cambial", afirma a análise diária do BBV.
O banco avalia que isso levaria a uma estimativa do BC para um dólar na casa dos 3,50 reais no final do ano. "O BC está subestimando a inflação para o próximo ano. Há, todavia, uma probabilidade crescente de o BC promover uma elevação dos juros no próximo Copom, caso o dólar continue sobrevalorizado." Para o banco BBV, o BC deveria elevar os juros para sinalizar que a inflação IPCA para 2003 permanece sob controle.