Roberto Lavagna, ex-ministro da economia da Argentina, fala com a imprensa após votar em uma seção eleitoral durante a eleição nacional em Buenos Aires, Argentina. Outubro de 2007 Foto: Diego Giudice/Bloomberg News (Diego Giudice/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 13 de abril de 2019 às 08h00.
Última atualização em 13 de abril de 2019 às 08h00.
Roberto Lavagna, que coordenou a reconstrução da economia argentina após o default em 2001, surge como candidato moderado no que pode ser uma das eleições presidenciais mais polêmicas da história do país.
O ex-ministro da economia oferecerá aos eleitores um caminho intermediário entre o atual presidente de direita, Mauricio Macri, cujo mandato foi marcado por duas recessões, e a ex-mandatária Cristina Fernandez de Kirchner, cujas políticas populistas são vistas por muitos como responsáveis pelos problemas econômicos da Argentina. Lavagna diz que não seria candidato em uma primária com muitos adversários, mas que estaria disposto a concorrer em uma eleição geral.
Ainda assim, o economista de 78 anos não é o favorito para vencer as eleições de outubro. Primeiro, precisa convencer a fragmentada oposição a desistir de Kirchner e outros rivais para apoiar sua candidatura - tarefa nada fácil, dada a lealdade que muitos sentem por Kirchner e seu próprio status de forasteiro. Depois, terá de convencer os eleitores de que pode criar empregos e aumentar os salários, sem alimentar a inflação e derrubar o peso.
Lavagna não conseguiu se reeleger para a presidência em 2007 e apoiou um candidato que perdeu a disputa em 2015. Por isso, seu histórico contra Kirchner não é animador. Muitos peronistas, do movimento político populista fundado pelo ex-presidente Juan Domingo Perón, acreditam que as políticas tributárias e de gastos de Kirchner se encaixam melhor em suas agendas do que as políticas de Lavagna.
"Ele precisa do apoio explícito e do compromisso político das principais alas peronistas", disse Juan Cruz Diaz, diretor da consultoria política Cefeidas Group, em Buenos Aires. "Vai ser muito difícil ou impossível que sua campanha prospere sem esse apoio. E, se Kirchner for candidata, será muito difícil conseguir isso." Os candidatos têm até 22 de junho para entrar oficialmente na corrida presidencial antes das eleições de 27 de outubro. Haverá segundo turno se o candidato na liderança receber menos de 45% dos votos ou menos de 40% com uma diferença de 10 pontos percentuais contra osegundo colocado.
O economista venceria com 58% dos votos em um segundo turno contra Macri, segundo pesquisa da consultoria Synopsis, citada em relatório do Goldman Sachs de 29 de março.
Lavagna foi ministro da Economia de abril de 2002 a 2005, tendo conduzido a Argentina a um crescimento anual de mais de 8% após seu primeiro ano no cargo, em uma época quando os preços globais das commodities disparavam e as exportações para a China estavam em alta.
O ex-ministro reestruturou a dívida inadimplente da Argentina com investidores estrangeiros, convencendo a maioria a receber 25 centavos de dólar. Os credores que não aceitaram a proposta inicial chegaram a um acordo apenas em 2016. Lavagna também aumentou as tarifas de exportação para gerar mais receita, uma política que Macri tentou desfazer antes da crise cambial.