Economia

Opinião: Menores preços de serviços reduzem projeções para inflação

Revisamos a projeção para o IPCA de 2023, de 5,1% para 5,0%. Para 2024, nossa projeção passou de 4,0% para 3,8%

Inflação: Os preços de alimentos e de bens duráveis devem sustentar seu papel importante como fatores de contenção da inflação, observados ao longo de todo o ano (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Inflação: Os preços de alimentos e de bens duráveis devem sustentar seu papel importante como fatores de contenção da inflação, observados ao longo de todo o ano (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Publicado em 25 de setembro de 2023 às 12h16.

Última atualização em 25 de setembro de 2023 às 12h45.

Os últimos resultados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado como referência pelo Banco Central para medir a inflação, reafirmaram a perspectiva favorável para os preços de alimentos e de bens industriais em 2023, influenciados, sobretudo, pela combinação de preços de commodities menos pressionados e certa apreciação do real. No entanto, o destaque positivo dos últimos meses foi o comportamento da inflação de serviços. Após incorporar ao nosso cenário a perspectiva mais benigna para a inflação de serviços no curto prazo, revisamos a projeção para o IPCA de 2023, de 5,1% para 5,0%. Para 2024, a nossa projeção para o IPCA passou de 4,0% para 3,8%.

Os preços de alimentos e de bens duráveis devem sustentar seu papel importante como fatores de contenção da inflação, observados ao longo de todo o ano. Aumento da oferta e redução de custos, no contexto de produção agropecuária melhor que o esperado para o ano, levaram a sucessivas surpresas baixistas para a inflação de alimentos, que deve encerrar o ano com alta acumulada de apenas 0,1%. A trajetória de arrefecimento de bens industrializados foi fundamental para o processo desinflacionário até então e foi reforçada por uma combinação de fatores favoráveis para os preços industriais: (1) normalização das cadeias de produção, observada desde meados do ano passado; (2) redução dos preços internacionais de commodities, especialmente do petróleo e (3) apreciação do real, sobretudos nos últimos meses.

Destaca-se a queda dos preços de bens duráveis, que incluem aparelhos eletroeletrônicos e veículos e que contribuíram significativamente para a desaceleração de industrializados. Ainda assim, cabe destacar movimentos no sentido contrário, como alguma desvalorização do real, a retomada de níveis mais elevados dos preços do petróleo e a reversão da deflação dos preços industriais ao produtor, combinação que deve levar a uma perda de ritmo do arrefecimento nos próximos meses. Ainda assim, os bens industriais devem encerrar o ano com variação de 2,6%.

A despeito da perspectiva mais favorável para o IPCA no curto prazo, a inflação de combustíveis representa um risco altista ao nosso cenário para 2023. O último reajuste da Petrobras, em meados de agosto, não foi suficiente para eliminar a defasagem dos preços domésticos da gasolina e do diesel em relação à paridade internacional.

Diante da perspectiva de que os preços do petróleo não caiam no curto prazo, no contexto de um mercado sazonalmente mais apertado diante de cortes de oferta por parte de importantes produtores, o preço da gasolina deve se sustentar em patamar mais elevado. Ademais, a alta de preços de combustíveis, em especial do diesel, pode levar a uma maior difusão das pressões inflacionárias, uma vez que um aumento de preços de fretes e transporte tende a ser repassado ao custo de demais serviços e bens. Logo, a possibilidade de que haja mais um reajuste altista por parte da Petrobras neste ano demanda cautela.

No ano que vem, a inflação deve se beneficiar de menores altas para os preços da gasolina, que tiveram um forte impacto sobre a inflação de administrados neste ano, pressionados pelo retorno da cobrança de tributos que haviam sido suspensos no governo anterior. No entanto, o IPCA deve permanecer acima da meta. Não obstante a revisão baixista, o núcleo de serviços deve ser a principal fonte de pressão inflacionária em 2024, influenciado pelos impactos das políticas expansionistas do governo e do mercado de trabalho resiliente. O cenário agropecuário deve ser novamente favorecido pela redução nos custos de produção, com base na expectativa de recuo nas cotações do petróleo Brent, e pela ampliação do abate de animais e da produção de commodities relevantes, como o milho e soja.

Neste sentido, o cenário mais favorável aos produtores deve ser repassado para os preços de alimentos ao consumidor. No entanto, destaca-se a presença de riscos altistas associados ao El Niño, dado que a nossa projeção para 2024 não incorpora um impacto relevante de eventos climáticos adversos ligados ao fenômeno. A perspectiva para bens industriais é de manutenção de um contexto favorável, influenciado pelo recuo estimado para o preço internacional do petróleo, em linha com a hipótese de relaxamento dos cortes voluntários da Opep+. No entanto, a expectativa é de aceleração marginal dos preços de bens duráveis em relação a 2023, impactados pela expectativa de um câmbio médio mais depreciado em 2024.

Juros

Sem surpresas, o Copom reduziu novamente a Selic em 50 bps na reunião de setembro, levando a taxa para 12,75% ao ano. Desta vez, a decisão ocorreu de forma unânime, diferentemente da divisão verificada em agosto. O comunicado do Comitê reiterou pontos que recomendam a manutenção do gradualismo na condução da política monetária. Assim, salvo alguma surpresa conjunta em aspectos sensíveis à política monetária, como uma reancoragem plena das expectativas de inflação, uma piora mais abrupta da atividade econômica ou a intensificação consistente da desinflação nos serviços, o atual ritmo de corte deverá ser mantido nos encontros seguintes. Com isso, mantemos a expectativa de nova redução de 50 bps na reunião de novembro e a expectativa de Selic de 11,75% ao final de 2023 e de 9,25% ao término de 2024.

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