Economia

"Melhora da economia pode ter fôlego curto", diz Marcos Lisboa

Para presidente do Insper, suspensão da reforma da Previdência por intervenção no Rio deve agravar ainda mais degradação da política pública

Marcos Lisboa: "Haverá piora progressiva da qualidade da política pública", diz economista (Reprodução/YouTube/Reprodução)

Marcos Lisboa: "Haverá piora progressiva da qualidade da política pública", diz economista (Reprodução/YouTube/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de fevereiro de 2018 às 11h18.

São Paulo - O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, afirma que uma possível suspensão da reforma da Previdência por causa da intervenção no Rio deve agravar ainda mais o quadro de degradação da política pública. Na avaliação dele, as consequências da falta de reformas (especialmente a previdenciária) já estão espalhadas pelo Brasil inteiro, com a piora da segurança pública e a infraestrutura precária. "É um quadro que já está aí e vai se agravar. Haverá piora progressiva da qualidade da política pública."

A avaliação do mercado é que a intervenção no Rio deve enterrar a reforma da Previdência. Quais os reflexos disso?

Está cada dia mais difícil. Quanto mais se demora para fazer as reformas necessárias, maior é o quadro de degradação da política pública. A segurança falha (como no Rio); a manutenção de viadutos não é feita; problemas de infraestrutura em vários lugares vão surgindo, como falta de acesso à água; há atraso de salários, de aposentadorias e de pagamento de fornecedores.

Há um prazo limite para se fazer a reforma da Previdência?

Não é que haja uma data limite, mas a medida que você não faz as reformas - e a Previdência é a mais importante -, o dinheiro vai acabando e você tem de cortar em algum lugar. E começam cortando a manutenção. O que vai ocorrer é que, na medida que o dinheiro vai acabando, você vai cortando ciência e tecnologia, manutenção de estrada, investimento em saneamento. Os relatos estão pipocando e estamos vendo uma série de casos espalhados pelo Brasil, com uma infraestrutura deficiente.

A tendência é piorar?

É um quadro que já está aí e que vai se agravar. Haverá uma piora progressiva na qualidade da política pública com a falta do dinheiro. Quando você para de fazer manutenção em estradas e em saneamento, você está criando um problema para o futuro. O viaduto que caiu (semana passada) em Brasília não é resultado de apenas um ano sem investimento, mas de vários. Sem dinheiro, corta-se a manutenção. Já estamos vendo as consequências da crise fiscal. A degradação da violência e das estradas é o retrato disso.

E onde isso pode chegar?

O que tem agora é o debate em torno da regra de ouro. Chega uma hora em que a despesa obrigatória do governo federal fica maior que a receita corrente líquida. Se não há recursos extraordinários, como os do BNDES neste ano, o governo precisa de empréstimo para pagar a despesa corrente. No fundo, ele estará tomando empréstimo para pagar a Previdência. A regra de ouro proíbe essa prática. Se começa a fazer isso, perde-se o controle. É insustentável a médio prazo.

Deixar a reforma para o próximo governo significaria ter uma reforma mais rígida?

Vai ser cada vez pior. O gasto da Previdência cresce acima do PIB por causa do envelhecimento da população. Quanto mais demora, mais grave fica o quadro. A questão é que, embora a Previdência seja a mais importante, é preciso fazer outras coisas para equilibrar as contas públicas.

A retomada econômica pode ser interrompida?

De um ano e meio para cá, houve uma inflexão grande da política econômica, que terminou com maior responsabilidade para enfrentar o problema fiscal. Teve a PEC do Teto, a reforma trabalhista, melhora na governança da Petrobrás e da Caixa. Houve uma agenda importante que permitiu a queda dos juros e da inflação. Na hora que houve melhora na condição da política econômica, o mercado passou a acreditar que o futuro não seria tão ruim. Hoje, estamos colhendo os frutos da melhora da política econômica iniciada no fim de 2016. Este ano seria de alívio e de recuperação da economia. O risco é perder a oportunidade de continuar essa trajetória boa. A melhora pode ter fôlego curto. Se tem um desequilíbrio fiscal deste tamanho, como vai fazer ajuste? Vai aumentar imposto? Vai cortar despesas? Se você não sabe como vai ser o ajuste, como vai investir?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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