(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 17 de outubro de 2019 às 19h20.
Última atualização em 17 de outubro de 2019 às 19h36.
São Paulo — Henrique Meirelles, secretário de Fazenda do Estado de São Paulo e ex-ministro da Fazenda do governo Michel Temer, disse nesta quarta-feira (17) que ruídos gerados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro em torno de questões não econômicas, como as queimadas na Amazônia, contribuíram para limitar o crescimento da economia neste ano.
"Começou a haver muito tumulto desnecessário e isso gerou também uma incerteza desnecessária", afirmou Meirelles ao discursar na segunda edição do Brasil Financial Summit, evento anual realizado pela Refinitiv. "O fato é que o o crescimento é menor do que o esperado."
Meirelles citou como exemplos de ruídos provocados pelo governo a "controvérsia extraordinária internacional espetacular" em torno dos incêndios na Amazônia. Também criticou o fato de o governo ter discutido "as qualidades estéticas da mulher do (presidente francês) Emmanuel Macron" em meio a tratativas do acordo do Mercosul com a União Europeia.
"Fica difícil", disse o ex-ministro.
Em agosto, Bolsonaro comentou uma publicação de um seguidor em uma rede social na qual apareciam as fotos do presidente francês com sua esposa e de Bolsonaro com a primeira-dama Michele Bolsonaro e o texto "entende agora pq Macron persegue Bolsonaro". A resposta do presidente foi: "Não humilha cara. Kkkkkkk."
Macron classificou a atitude de Bolsonaro de "triste" e disse esperar que rapidamente os brasileiros tenham um presidente que se comporte à altura do cargo.
O embate aconteceu em meio a uma discussão pública entre os dois mandatários em torno da responsabilização pelas queimadas na Amazônia.
Meirelles afirmou que a expectativa de crescimento da economia no ano, no início da administração Bolsonaro, era de 2,5%, e hoje o consenso está em torno de 0,9%, segundo o último relatório Focus do Banco Central.
Além das controvérsias do governo, que, segundo Meirelles,assustaram investidores, também contribuiu para a frustração da projeção um atraso no andamento da reforma da Previdência, disse o ex-ministro.
Meirelles afirmou que cálculos da sua equipe mostram que a aprovação da chamada PEC paralela, Proposta de Emenda à Constituição que permite a incorporação de Estados e municípios à reforma da Previdência, traria uma economia da ordem de 30 bilhões de reais a 34 bilhões de reais em 10 anos ao Estado de São Paulo.
Ele disse que o ganho é "significativo", mas afirmou que, diante das incertezas em relação à aprovação da PEC paralela, o governo estadual, comandado por João Doria (PSDB), já decidiu que encaminhará um projeto próprio à Assembleia propondo uma alteração na Constituição do Estado que viabilize as mudanças nas aposentadorias dos servidores estaduais, na linha do que foi aprovado para os federais.
"Acreditamos que dá para aprovar", afirmou Meirelles.