Economia

Meirelles deixa o BankBoston para fazer campanha em Goiás

A partir de hoje, o executivo Henrique de Campos Meirelles, que dirigia as operações internacionais do FleetBoston, o banco americano que controla o BankBoston, não pode mais ser encontrado em seu gabinete refrigerado em Nova York. Em vez disso, será comum vê-lo percorrer as calorentas ruas de Goiânia e outras cidades de Goiás, seu estado […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h25.

A partir de hoje, o executivo Henrique de Campos Meirelles, que dirigia as operações internacionais do FleetBoston, o banco americano que controla o BankBoston, não pode mais ser encontrado em seu gabinete refrigerado em Nova York. Em vez disso, será comum vê-lo percorrer as calorentas ruas de Goiânia e outras cidades de Goiás, seu estado natal. Sua atividade principal nos próximos dois meses será a busca de votos.

Meirelles, de 56 anos, renunciou a seu cargo para se dedicar, em tempo integral, à disputa por uma cadeira de deputado federal pelo PSDB. Nascido em Goiânia, onde viveu até os 18 anos, formou-se em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Fez pós-graduação em Administração na Harvard Business School, nos Estados Unidos. Foi presidente da Associação Viva o Centro, que visa recuperar o centro de São Paulo. Depois de anunciar sua decisão em entrevista coletiva concedida na sede do BankBoston em São Paulo, Meirelles concedeu a EXAME a seguinte entrevista:

EXAME - Por que o senhor, um presidente de banco com carreira internacional, resolveu concorrer a uma vaga no Congresso?

Meirelles - Há mais de 20 anos participo do debate público. Desde 1981, quando cheguei à vice-presidência do BankBoston, as grandes questões do país fazem parte de minha rotina. Sabia que tinha limitações por ser representante de uma instituição financeira, e concluí que era hora de participar do debate com um mandato popular.

EXAME - Quando o senhor resolveu disputar a eleição?

Meirelles - No começo do ano. Eu fiquei fora do país durante seis anos. Passei cinco anos em Boston e um em Nova York. Estava num ponto em que ou assumia a vida de estrangeiro, e ficava por lá mesmo até me aposentar, ou eu voltava para o Brasil. Tomei a decisão de voltar e disputar a eleição.

EXAME - O que o senhor vai trazer de novo ao Congresso?

Meirelles - Tenho uma experiência inusual. Dirigi uma instituição financeira com presença em 32 países. Participei de projetos importantes em outros lugares do mundo. Conheço o risco-país do lado de lá. Isso tudo me deu uma visão própria, que pretendo utilizar prestando um serviço num cargo público.

EXAME - Quais são suas propostas?

Meirelles - Do ponto de vista regional, a principal é a criação de empregos. Goiás é um Estado grande, que tem várias vocações. No sul e no sudoeste, a agroindústria é prioritária. Anápolis é um grande pólo de medicamentos genéricos, que pode ser mais explorado. As cidades do entorno de Brasília, com crescimento populacional explosivo, são perfeitas para projetos de mão-de-obra intensiva, como confecção, calçados e brinquedos.

EXAME - E no âmbito nacional?

Meirelles - Quero participar de discussões como a da vulnerabilidade externa do país.

EXAME - Como solucionar esse problema?

Meirelles - Depende de uma cadeia de eventos. O governo precisa mostrar que vai alcançar superávit primário sustentável, em vez de depender de negociações duras com o Congresso todo ano. Isso pode ser garantido uma reforma tributária. Caindo o risco Brasil, os juros podem baixar e, com eles, a dívida. O Brasil começa a crescer e a entrar num círculo virtuoso.

EXAME - Que círculo virtuoso?

Meirelles - Aí entra uma decisão política, para alocar os ganhos do crescimento. Devemos fazer outra reforma tributária, e garantir impostos mais baixos e juros menores, principalmente para o setor exportador. O país atrai investimentos externos e cresce. Com isso se eliminam os dois pontos frágeis da economia, o déficit em conta corrente e a relação das exportações sobre a dívida externa. Então o país está pronto para entrar numa era de crescimento sustentado.

EXAME - Todos os candidatos à Presidência dizem que o setor exportador é que deve puxar o crescimento...

Meirelles - O problema é como fazer isso. Na Ásia, os países adotam um modelo com três pilares: austeridade fiscal, taxas de juro baixas e moeda local desvalorizada sistematicamente, como política. No Brasil parece que tudo acontece ao contrário. Um país pobre tem de trabalhar com moeda desvalorizada, ou seja, com o dólar caro.

EXAME - Mas a 3 reais?

Meirelles - Pode até ser. O problema é a adaptação. É uma fase penosa, mas que precisa ser ultrapassada.

EXAME - O senhor já foi eleito para alguma coisa?

Meirelles - Só no tempo da juventude. No início dos anos 60, fui presidente do grêmio e da Federação Goiana de Estudantes.

EXAME - Como alguém que veio da iniciativa privada, e estava em posições de comando, vai conseguir engolir sapos na política?

Meirelles - Por enquanto, não vejo problema. A eleição de deputado federal é muito individual. Ela dá grande liberdade de opinião e de movimento, e é isso que pretendo exercer no Congresso.

EXAME - Está duro carregar a candidatura de José Serra?

Meirelles - Não. Acho o Serra um excelente candidato. Sou otimista, e acho que ainda não tem nada definido. A eleição no Brasil passa muito pelo programa eleitoral na televisão, que ainda nem começou.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Chinesa GWM diz a Lula que fábrica em SP vai produzir de 30 mil a 45 mil carros por ano

Consumo na América Latina crescerá em 2025, mas será mais seletivo, diz Ipsos

Fed busca ajustes 'graduais' nas futuras decisões sobre juros