Agricultura: especialista se referiu principalmente a dois grandes acordos: o Tratado Transpacífico e o pacto de livre-comércio que está sendo negociado entre a União Europeia e os EUA (Thinkstock/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2015 às 16h06.
Montevidéu - Os mega-acordos comerciais em nível global que estão sendo firmados nos últimos meses terão um forte impacto no setor agrícola da América Latina, afirmou nesta sexta-feira Joaquín Arias, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), na apresentação de um relatório regional sobre o tema em Montevidéu, no Uruguai.
O documento, denominado "Perspectivas da agricultura e do desenvolvimento rural nas Américas: um olhar em direção à América Latina e ao Caribe", é a sexta edição de uma análise anual elaborada pelo IICA junto à Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Arias se referiu principalmente a dois grandes acordos: o Tratado Transpacífico (TTP, na sigla em inglês), um aliança comercial entre 12 países que reúne 805 milhões de consumidores e cerca de 40% do PIB mundial, além do pacto de livre-comércio que está sendo negociado entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos.
Sobre o primeiro, o analista destacou à Agência Efe que "só três países da região (Chile, Peru e México) são membros". Para ele, as nações que não participam do TTP podem ter suas exportações afetadas porque elas se tornarão mais caras, algo que implica em um "desvio do comércio" dos países que não estão no pacto.
Nesse sentido, o relatório indicou que as exportações agrícolas dos países da região nos anos 80 representavam 9% do total no âmbito mundial, aumentando para 14% atualmente.
No entanto, um dos aspectos que os países que não participam do TTP podem se beneficiar é a harmonização dos padrões comerciais.
Por outro lado, sobre o tratado de livre-comércio negociado entre EUA e UE, Arias ressaltou que quem mais pode se beneficiar no curto e no médio prazo são os países da América Latina e do Caribe que "já têm acordos" com uma das partes. Já os que não possuem, terão que "enfrentar um desafio muito importante para suas exportações".
Dentro da análise da conjuntura econômica e de como o setor agrícola se inscreve no contexto na região, o especialista destacou que países mais dependentes das economias da Ásia, fundamentalmente da China, e da UE, podem ser "muito mais afetados" pela desaceleração econômica mundial.
Porém, os que são mais próximos dos EUA, da América Central, do México e alguns países do Caribe poderão ser menos atingidos pela crise devido a uma "leve melhoria" nesses países.
Outros fatores avaliados no relatório apresentado hoje em Montevidéu é a reversão do preço das matérias-primas, que atualmente atravessa um período de baixa.
Quanto às projeções de crescimento da região, que Arias avaliou como algo que o setor deve acompanhar de perto, o analista disse que, ignorado o desempenho de Venezuela e Brasil, o índice será de 2,6%. Incluindo os dois países, a mesma previsão se torna negativa.
O documento do IICA, FAO e Cepal também faz uma análise detalhada da situação do agronegócio por áreas, como pecuária, pesca, a situação das florestas e da própria agricultura, um assunto abordado por outro dos encarregados do relatório, Hugo Chavarría.
Sobre a pecuária, ele destacou o segmento continuará fortalecendo a produção sustentável na região, enquanto a pesca apresentou uma queda história na América Latina e no Caribe. A aquicultura, porém, mostrou uma tendência crescente e sustentada.
Além disso, Chavarría assinalou a importância da incorporação da tecnologia na produção agrícola e a necessidade de os países investirem nesse tipo de ação para facilitar o acesso dos pequenos produtores. Sobre esse uso, o analista destacou que o Brasil é "o segundo país do mundo com maior superfície de sementes geneticamente modificadas plantadas".