Tanques de armazenagem de gás natural da Petrobras: maior concorrência está reduzindo a diferença entre os preços na América Latina e os preços na Ásia (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 25 de abril de 2014 às 17h41.
Londres/Houston - Miguel Abitbol gastou quase US$ 4.000 em equipamento de televisão para exibir os jogos da Copa do Mundo em seu bar e restaurante, no Rio de Janeiro. Ele está rezando para que haja eletricidade suficiente para ligá-lo.
O aparelho de Abitbol, de 48 polegadas, é um dos 16 milhões que deverão ser vendidos neste ano no Brasil, que sediará o evento esportivo mais assistido do mundo. O início do campeonato, em junho, se assoma enquanto o país enfrenta uma seca que reduziu o suprimento de água necessário para a energia hidrelétrica a níveis quase críticos. Um apagão em fevereiro cortou a eletricidade para 6 milhões de pessoas.
A Petrobras está comprando quantidades recordes de gás natural liquefeito para manter as centrais elétricas alimentadas a gás funcionando em sua máxima capacidade e preservar assim as reservas de água. A maior concorrência pelo combustível está reduzindo a diferença entre os preços na América Latina e os preços na Ásia, os mais caros, a menor desde setembro.
“Graças a Deus que ainda não tivemos apagões até agora, mais se acontecer um no meio de um jogo do Brasil, eu terei jogado meu dinheiro fora”, disse Abitbol, 27, que também comprou telas de projeção de 120 polegadas para exibir os jogos durante todo o mês do evento. “Espero ter a casa cheia e uma grande festa”.
Os preços do GNL na América do Sul podem exceder os da Ásia nos próximos meses enquanto o Brasil acelera as importações e o inverno começa no hemisfério sul, de acordo com a Bentek Energy LLC, uma consultora de energia com sede em Denver. A maior economia da América Latina costuma atender 70 por cento da demanda energética dos suprimentos hidrelétricos.
“Estão operando as centrais de gás à máxima capacidade agora, tentando ganhar tempo para que as chuvas ajudem a reabastecer os reservatórios de água”, disse Javier Diaz, analista da Bentek. “É uma decisão inteligente, do contrário seria um desastre se eles sofressem com cortes de energia durante a Copa do Mundo”.
O Brasil, que recebeu sua primeira remessa de GNL em 2009, aumentou as importações no ano passado em 54 por cento, para 4,2 milhões de toneladas, o que contribuiu para que a América Latina se tornasse a região importadora com o crescimento mais acelerado no mundo, de acordo com o Grupo Internacional de Importadores de GNL, com sede em Paris. O País recebeu 637.289 toneladas em março, uma quantidade sem precedentes, 76 por cento a mais que no ano anterior, segundo a Bentek.
Fornecimento reserva
O conselho da FIFA, órgão regulador do futebol, disse que durante os jogos as áreas essenciais funcionarão com geradores e contam com um fornecimento reserva para evitar cortes.
“Todos os usos de energia ocorrem em meios redundantes”, disse a FIFA em um comunicado. “Portanto, caso ocorra uma falha em algum ponto, outro sistema sempre estará pronto para substituir o original”.
A rede do Brasil poderá suportar a Copa do Mundo porque o clima vai esfriar e, com ele, também a demanda, disse o vice-ministro de energia Márcio Zimmermann, em 6 de fevereiro. O sistema do País tem uma capacidade termal suficiente para complementar a geração hidrelétrica, disse o ministro de energia Edison Lobão, em 2 de abril, depois da última reunião mensal do comitê de monitoramento do setor elétrico.
Os reservatórios de água podem ganhar um impulso do El Niño, um aquecimento do Oceano Pacífico que leva mais chuvas ao Brasil, disse Celso Oliveira, meteorologista da Somar Meteorologia, em São Paulo. O Centro de Previsão do Tempo dos EUA disse que há 65 por cento de chances de que o padrão climático se desenvolva depois de agosto.
Escassez de água
Mesmo com chuvas acima do normal em diversos dos próximos meses, provavelmente isso não será suficiente para restaurar os níveis de água nas represas, disse Oliveira.
A seca conduziu os preços à vista de energia a recordes, levando a presidente Dilma Rousseff a anunciar um pacote de ajuda de R$ 12 bilhões (US$ 5,4 bilhões) para os serviços no mês passado. Dilma concorrerá à reeleição em outubro e seria “doloroso politicamente” introduzir um racionamento significativo de energia antes das eleições, escreveram analistas do Citigroup Inc., incluindo Marcelo Britto, em um relatório do mês passado.
É muito provável que o Brasil acelere a compra de GNL no próximo mês para aumentar os níveis de armazenamento como precaução, disse Trevor Sikorski, diretor de gás natural, carvão e carbono da Energy Aspects.
“As importações da Argentina costumam atingir um pico no período em que o Brasil será a sede da Copa do Mundo”, disse Diaz da Bentek, em 7 de abril. “É uma combinação lamentável”.