Angela Merkel recebe Christine Lagarde em Berlim em outubro de 2018 (Hannibal Hanschke/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 6 de junho de 2020 às 08h00.
Titãs de política monetária e fiscal da Europa finalmente começam a caminhar juntos. A onda de estímulos do governo da Alemanha fortalece as medidas de afrouxamento do banco central, sinalizando uma nova era de coordenação de políticas na região.
Essas medidas para impulsionar a economia em meio à crise do coronavírus, anunciadas com breve intervalo em Berlim e Frankfurt, seguiram a criação de um fundo de recuperação europeu em Bruxelas, apoiado por empréstimos conjuntos.
A Alemanha precisava agir “com coragem e decisão”, disse a chanceler Angela Merkel à emissora alemã ARD em entrevista na quinta-feira, quando defendeu o pacote de gastos sem precedentes do governo. “Felizmente, nos bons tempos, agimos de uma maneira que nos permite fazer isso agora.”
Isoladamente, as iniciativas já são significativas, mas, combinadas, são uma demonstração de força. Também sugerem que a Europa, que há muito tenta encontrar um campo comum sobre política econômica, está mais do que nunca exibindo um senso de objetivo coletivo.
“A mudança na formulação de políticas no nível europeu tem sido tremendamente significativa”, disse Neville Hill, economista-chefe europeu do Credit Suisse, em Londres. “Não somente é capaz de permitir que a economia da zona do euro se recupere bem da crise de curto prazo, mas aumenta a perspectiva de um quadro político melhor e mais equilibrado na União Europeia quando estiver recuperada.”
No centro dessa mudança estão duas mulheres com experiência em turbulências anteriores no mercado financeiro. A chanceler da Alemanha coordenou dois dias de negociações tensas para conseguir um estímulo de 130 bilhões de euros (US$ 147 bilhões), depois de conduzir o governo a compartilhar seu poder fiscal para apoiar a nova ferramenta de empréstimos da UE.
Enquanto isso, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, ex-ministra das Finanças da França e ex-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, manteve a instituição na vanguarda de combate a crises. E disse claramente aos governos que não pode fazer o trabalho sozinha.
O BCE ampliou as compras de títulos em 600 bilhões de euros na quinta-feira e ainda pode aumentar o valor no futuro.
“O BCE está agindo de forma mais enérgica do que nunca, e o governo alemão também”, disse Nick Kounis, economista do ABN Amro, em Amsterdã. “A resposta política foi muito mais rápida, coordenada e focada em comparação com a crise financeira global.”