Guedes e Bolsonaro (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2019 às 06h08.
Última atualização em 4 de novembro de 2019 às 12h00.
São Paulo — Uma nova semana, uma nova oportunidade de separar os escândalos da agenda econômica do governo. A segunda-feira deve trazer novas repercussões sobre a atrapalhadíssima investigação sobre as mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes, que já completam 600 dias. No sábado, em mais um desdobramento, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que pegou o registro das ligações da portaria do condomínio — uma interferência indevida na apuração do caso.
As investigações devem continuar avançando, e gerando notícias. Mas, a partir dessa segunda-feira, o governo — e os investidores — devem se voltar para o pacote de medidas econômicas pós-previdência prometido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Inicialmente, o pacote que contém cinco medidas econômicas seria publicado na quarta-feira passada, mas a ausência de Bolsonaro, que estava no Oriente Médio, e sua reação explosiva ao ser citado nas investigações do caso Marielle, fez com que o governo adiasse o anúncio.
Com o presidente de volta ao Brasil, a expectativa é que os novos planos do ministro da Economia sejam apresentados até terça-feira. Outras medidas para estimular o emprego, coordenadas pela secretaria de Previdência e Trabalho, subordinada à pasta, ainda podem ser apresentadas nesta semana.
Em entrevista à Folha neste domingo, Guedes chamou o pacote de um novo “pacto federativo”, com o objetivo de reformar o Estado e descentralizar os recursos para focar ação em áreas como saúde e educação. “É a transformação do Estado que deve ser moldado para melhor servir uma ordem democrática”, disse.
Um os principais pontos do pacote que será apresentado por Guedes, está a divisão dos recursos do pré-sal entre Estados e municípios. “A proposta vai criar um novo volume de partilha. A partir de agora, cada um cuida de si”, disse o líder do governo no Senado, Bezerra Coelho (MDB-PE), na semana passada. “Vamos caminhar com desvinculação, desindexação, desobrigação, a criação do Conselho Fiscal da República para o Judiciário não estar tomando decisões que levem a um desequilíbrio fiscal”, completou.
Outros pontos do pacote de Guedes, como a PEC emergencial para cortar gastos obrigatórios e a reforma administrativa, devem ficar para depois. À Folha, Guedes reconheceu que seu pacote é amplo, e que diferentes projetos devem caminhar em diferentes ritmos.
Apesar de as propostas estarem praticamente concluídas, o governo também tenta costurar um acordo com o Congresso para definir a forma como as medidas serão apresentadas.
“Foram 30 anos de centro-esquerda. Dá para esperar quatro aninhos de um liberal-democrata? Se não melhorar, troca, sem intolerância. Mas deu três meses e já começaram: cadê o crescimento? Vamos ser razoáveis. Não é justo”, questionou.
A entrevista foi elogiada por investidores e gestores ao longo do fim de semana. A grande dúvida que se impõe, agora, é a capacidade do governo de fazer tramitar sua agenda no Congresso — e o comprometimento do presidente com estas medidas.