Fábrica do Marfrig: com o repasse oficial da Seara ao rival JBS, a empresa abriu mão de um terço de sua receita e se viu livre de R$ 5,85 bilhões em dívidas (Divulgação/EXAME)
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2013 às 08h57.
São Paulo - O sonho do Marfrig de conquistar o varejo terminou na segunda-feira, 30, com o repasse oficial da Seara ao rival JBS. Com o negócio fechado em junho, o Marfrig abriu mão de um terço de sua receita e se viu livre de R$ 5,85 bilhões em dívidas.
O endividamento líquido deve ser reduzido a R$ 5,7 bilhões, ou 3,4 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), no terceiro trimestre.
A decisão de reduzir o tamanho do Marfrig veio no fim do primeiro trimestre deste ano. Castigado por um endividamento líquido de quase R$ 10 bilhões, a empresa se viu obrigada a abrir a possibilidade de vender qualquer um de seus principais ativos para fazer caixa.
Segundo o presidente do grupo, Sergio Rial, todas as hipóteses foram analisadas. Entraram na lista a Seara, a operação europeia Moy Park e a Keystone Foods, que fornece para redes fast-food ao redor do mundo e tem o McDonalds como o principal cliente.
Após negociações em abril e maio, o Marfrig optou por repassar a Seara para a JBS sem receber um centavo, mas livrando-se de um fardo pesado de obrigações. No entanto, mesmo após o anúncio da operação, o grupo continuou a ser alvo da desconfiança do mercado.
Desde o dia 10 de junho, quando o acordo foi firmado, as ações do Marfrig caíram mais de 20% na Bovespa. Fontes de mercado diziam que o ajuste seria insuficiente e que o Marfrig teria de continuar o processo de desmonte para ser viável financeiramente.
Fatiamento
É justamente essa informação que tanto o presidente do Marfrig quanto o fundador Marcos Molina negam com veemência. Segundo eles, a temporada de vendas está encerrada. Eles dizem que a Seara foi repassada ao JBS porque era o ativo que mais contribuía para a queima de caixa.
Na tentativa de tornar a Seara mais relevante, o grupo fez de tudo: comprou patrocínio da Copa do Mundo, lançou novos produtos e até adotou marcas herdadas da BRF. A participação de mercado cresceu em alguns segmentos, mas à custa de um ritmo de investimentos que a empresa não podia mais acompanhar.
Apesar de não ter recebido um centavo pelo negócio pelo qual pagou US$ 900 milhões à americana Cargill há quatro anos, Rial e Molina dizem considerar a venda da Seara um bom negócio. Dos R$ 5,85 bilhões das obrigações da Seara, o Marfrig conseguiu subtrair R$ 4,1 bilhões de sua dívida líquida. O restante se refere a débitos alocados diretamente na Seara - que é uma empresa independente, explica Rial.
Caso o acordo com a JBS não tivesse saído, Rial e Molina estavam dispostos a vender ativos no exterior - como as operações da Keystone e da Moy Park para a BRF - e no Brasil, com o repasse da operação de bovinos para o frigorífico Minerva. Dentro da nova e mais enxuta estrutura do grupo, isso não faz mais sentido, segundo os executivos.
Eles preparam o Marfrig Day para o próximo dia 21. Será uma oportunidade para analistas conhecerem os planos da empresa para os próximos cinco anos, com insights sobre a capacidade de expansão dos negócios que ficaram no portfólio.
Grupo enxuto
Com a venda da Seara, a operação de bovinos no Brasil passará a responder por 47% da receita, seguida de Keystone (28%) e Moy Park (25%). Segundo Rial, o grupo tentará mostrar ao mercado que pode ganhar mercado com a Keystone e a Moy Park, especialmente na Ásia.
Nas operações nos Estados Unidos e na Europa, o foco será ampliar o número de clientes. O McDonalds, que já respondeu por 60% da receita em território americano, hoje contribui com 40%, diz a empresa.
Molina e Rial admitem que, para sobreviver, o Marfrig precisou reduzir ambições. Na sede, em São Paulo, um andar já foi esvaziado. Sem a Seara, o número de funcionários cairá de 90 mil para 45 mil e a receita anual deverá ficar entre R$ 17 bilhões e R$ 19 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.