Economia

Mantra do fundo de pensão privado é "esperar, ver e rezar"

O maior fundo de pensão privado do Brasil está ficando sem opções de investimento


	Fundação Cesp: o maior fundo de pensão privado do Brasil está ficando sem opções de investimento
 (Thinkstock/denphumi)

Fundação Cesp: o maior fundo de pensão privado do Brasil está ficando sem opções de investimento (Thinkstock/denphumi)

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Da Redação

Publicado em 28 de outubro de 2015 às 10h29.

Diante de uma queda significativa no valor de títulos locais, desempenho de ativos de renda variável baixo e poucas perspectivas de recuperação em breve, a Fundação Cesp, que tem 23,2 bilhões de reais em ativos, descumprirá sua meta autorial pelo terceiro ano consecutivo em 2015.

As perspectivas para 2016 não são muito melhores, segundo o presidente do fundo, Martin Glogowsky.

O país enfrenta sua recessão mais longa desde a Grande Depressão, a inflação mais alta em 12 anos e as taxas de juros mais elevadas desde 2006.

A Funcesp não enxerga muitos ativos atrativos disponíveis para investidores de longo prazo no momento, mesmo com o valor nominal do Ibovespa em cerca de metade da média das ações de mercados estrangeiros e após uma venda generalizada de títulos públicos neste ano.

As ações dos bancos estão próximas do nível mais barato em mais de uma década, mas o diretor de investimento da Funcesp, Jorge Simino, acha que os preços podem cair mais.

As ações estrangeiras que poderiam eventualmente defender o fundo da turbulência no Brasil estão caras demais após o real cair a um nível recorde neste ano. O fundo já mantém 20% de seus ativos nos investimentos de curto prazo mais seguros e estuda ampliar essa porcentagem.

“A volatilidade é enorme, absolutamente enorme”, disse Glogowsky, em entrevista na semana passada no escritório da Bloomberg em São Paulo. “Você pode se sair bem em um mês e no outro simplesmente afundar”.

Todo esse pessimismo foi primordial em como Simino decidiu colocar o dinheiro para trabalhar no Brasil na atualidade.

É “esperar, ver e rezar”, diz ele. “Uma nova abordagem para o investimento”.


Meta alta

O fundo, que gerencia contas de aposentadoria de trabalhadores de 10 empresas brasileiras de eletricidade, espera registrar um retorno total de cerca de 10% neste ano, abaixo de sua meta de 15,5%. Embora a desaceleração da inflação no ano que vem deva reduzir sua meta para cerca de 11%, este provavelmente ainda é um patamar muito alto dada a perspectiva para o país, disse Simino.

Em meio às projeções do maior déficit orçamentário desde 2002 e a uma crise política que paralisou o governo, os investidores estão pessimistas em relação às chances de o Brasil restaurar o crescimento rapidamente.

A queda de 32% do real em relação ao dólar neste ano ajudou o Ibovespa a registrar o pior desempenho do mundo entre os principais índices acionários.

O Brasil foi cortado para junk (grau especulativo) pela Standard Poor’s no mês passado, enquanto as outras duas principais agências de classificação mantêm o país no limiar da perda de seu grau de investimento.

O fundo, com sede em São Paulo, é o maior fundo de pensão do país não conectado a uma empresa estatal e gerencia o dinheiro de cerca de 15.000 trabalhadores em atividade e 31.000 aposentados.

A renda fixa representa cerca de 80% de seu portfólio de investimentos e as ações respondem por 12%, com o restante dividido entre imóveis e empréstimos aos seus membros.

Metas descumpridas

A Funcesp não é o único fundo de pensão brasileiro com retornos que ficam abaixo das metas. Em média, os fundos do país descumpriram suas metas em 2013, em 2014 e nos seis primeiros meses deste ano, segundo a associação de fundos de pensão.

No período de 10 anos até 2014, a Funcesp registrou um retorno de 305%, contra uma meta de 198%, segundo seu site.

O Congresso brasileiro dividido e os esforços para aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff estão atrasando as medidas fiscais que restaurariam a confiança e são os piores problemas do país sob a perspectiva dos investidores, segundo os gestores da Funcesp. Mas o Brasil passou por crises antes e se recuperará desta também, disseram Glogowsky e Simino.

“Podemos dizer que já vimos esse filme antes, porque passamos por situações piores”, disse Glogowsky. “Mas hoje eu acho que a questão política está tomando conta”.

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