Economia

Mantega: PIB cresceu 0,3% a 0,5% no 1º tri, mas já acelera

Para o ano, diz o ministro, o PIB brasileiro deverá crescer entre 3 e 4 por cento, abaixo da projeção inicial do governo, de 4,5 por cento

Mantega: "Isso significa que nós vamos ter que continuar crescendo mais do que esses países, aumentar o emprego e a renda da população" (Marcello Casal Jr/ABr)

Mantega: "Isso significa que nós vamos ter que continuar crescendo mais do que esses países, aumentar o emprego e a renda da população" (Marcello Casal Jr/ABr)

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Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2012 às 20h22.

Brasília - Ciente de que o governo vai se deparar nesta semana com números frustrantes sobre a economia brasileira no trimestre passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou claro nesta segunda-feira que os esforços estão voltados para estimular o investimento privado.

Assim, garantirá que a economia chegará no segundo semestre mais robusta, já que a partir de maio, segundo o ministro, começou a acelerar. Mantega não descartou novas medidas de estímulos, mas pede "paciência" para que as já adotadas possam surtir efeito.

Segundo ele, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter registrado expansão de apenas 0,3 a 0,5 por cento entre janeiro e março passados quando comparado com o quatro trimestre. O pior cenário mostraria que a atividade não acelerou, já que entre outubro e dezembro, a expansão foi de 0,3 por cento.

Para o ano, diz o ministro, o PIB brasileiro deverá crescer entre 3 e 4 por cento, abaixo da projeção inicial do governo, de 4,5 por cento. Mantega, no entanto, emenda que já no segundo trimestre a economia começou a se recuperar e, daí para frente, mostrará mais consistência.


"Nós precisamos ter um pouco de paciência porque a economia não é um automóvel que você gira a direção, ele vira para esquerda, vira a direção, freia. É mais como um transatlântico de grande porte, você acelera e demora mais para alcançar a velocidade de cruzeiro", afirmou o ministro em entrevista durante o Reuters Latin American Investment Summit.

"A economia já está acelerando, as medidas têm eficácia, e vamos ver isso com mais nitidez no segundo semestre", acrescentou. "No segundo semestre estaremos crescendo a 4,5 por cento."

Para o ministro, mesmo em um cenário de estresse externo adicional, como uma eventual saída da Grécia da zona do euro, o Brasil crescerá neste ano mais do que os 2,7 por cento de 2011. Os dados do primeiro trimestre deste ano serão divulgados na próxima sexta-feira.

"Pela sensibilidade, o que andou menos no primeiro trimestre foi o investimento do setor privado... Talvez houve alguma retração no investimento, que sempre volta depois", acrescentou.

O mercado, segundo mostrou a pesquisa Focus do Banco Central nesta segunda-feira, acredita que o PIB vai crescer menos de 3 por cento neste ano.

Mantega disse ainda que os investimentos públicos continuam mais fortes e adiantou que, entre janeiro e abril, os desembolsos do governo federal cresceram 28,9 por cento frente a igual período de 2011.

Para ele, as reduções nos gastos de custeio vão permitir mais investimentos sem que o governo tenha de abrir mão do cumprimento da meta cheia de superávit primário -economia feita para pagamento de juros- neste ano, de 139,8 bilhões de reais.


Para induzir essa esperada retomada no crescimento dos investimentos privados, Mantega mencionou as medidas já adotadas, como redução de juros. Segundo ele, o governo continua pensando em novas iniciativas -como diminuir os tributos para atacar a inadimplência-, mas é preciso esperar que as já tomadas surtam efeito.

"O governo pensa em medidas adicionais, porém as medidas que foram tomadas até agora ainda não tiveram tempo de surtir seu efeito", afirmou o ministro.

As mais recentes ações do governo para estimular a economia foram anunciadas na semana passada, envolvendo desde a redução do Imposto sobre Produtos Industrializado (IPI) para veículos até juros menores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para bens de capital.

Juros menores
Mantega disse ainda que o cenário de juros mais baixos "veio para ficar" e, assim, os aplicadores terão de se acostumar com rendimentos menores. A consequência é de que terão de buscar alternativas voltadas para o setor produtivo, como ações e debêntures.

O ministro reafirmou que a inadimplência no país já está recuando, com os bancos renegociando com os clientes. Para Mantega, o importante é que o crédito livre -cuja expansão está em torno de 16 por cento- volte a crescer com mais vigor.

Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne novamente e deve reduzir a Selic, como mostrou pesquisa da Reuters, dos atuais 9 por cento ao ano para 8,5 por cento, novo recorde histórico de baixa.

Câmbio
Mantega disse também que o câmbio atual, com o dólar perto de 2 reais, é benigno e não pressionará a inflação, porque será compensado por outras variáveis, como os preços em queda das commodities.

Na avaliação dele, as recentes atuações do BC oferecendo dólares no mercado futuro visam evitar uma volatilidade maior, que acaba prejudicando até mesmo as operações comerciais, e não têm como preocupação pressões inflacionárias advindas do câmbio.

O ministro admitiu ainda que, neste momento, a chamada "guerra cambial" se atenuou, mas não chegou ao fim.


"A guerra cambial só terminará quando os países monitorarem menos o câmbio e isso poderá acontecer", afirmou ele. "Nós temos pregado isso e acredito que não estamos pregando no deserto."

Sobre a crise europeia, o ministro diz acreditar que os países da região não terão outra saída a não ser aliar as políticas de austeridade com as de crescimento.

Ele reconhece que o setor financeiro europeu é um dos que mais sofre com a crise, mas afirmou que o banco espanhol Santander Brasil está bastante sólido no país. E negou que o Banco do Brasil esteja interessado na instituição, como chegou a ser publicado na imprensa brasileira.

Mantega disse ainda que o governo "não precisa" reduzir a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimentos estrangeiros em renda fixa, atualmente em 6 por cento, e que o governo quer priorizar os investimentos externos produtivos.

"Não fazemos questão que os estrangeiros detenham uma parcela da nossa dívida", afirmou o ministro. "Têm alguns que estão reclamando que o Brasil já não é o paraíso, mas não é o paraíso da arbitragem."

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