Economia

Mantega admite IPCA acima de 5% em 2015

"Tivemos pressão maior de inflação com tarifas de energia, o resultado da seca, preço de commodities", disse ele, admitindo que IPCA pode ultrapassar o previsto


	Mantega: ele reconheceu que é necessário um grande esforço para cumprir a meta fiscal de 1,9% neste ano
 (Ueslei Marcelio/Reuters)

Mantega: ele reconheceu que é necessário um grande esforço para cumprir a meta fiscal de 1,9% neste ano (Ueslei Marcelio/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2014 às 15h06.

Brasília - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu nesta quinta-feira, 28, que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pode ficar acima de 5% em 2015, que é a previsão oficial divulgada hoje.

"Tivemos pressão maior de inflação com tarifas de energia, o resultado da seca, preço de commodities. Mas o fato é que estamos tendo deflação a nível internacional, que vai se refletir aqui dentro. Então temos chance de fazer inflação menor (em 2015) do que faremos neste ano. Se vai ser 5%, não sei. Pode ser um pouco mais que isso", disse.

Mantega reconheceu que é necessário um grande esforço para cumprir a meta fiscal de 1,9% neste ano. "É difícil fazer 1,9%. Temos que fazer grande esforço. Temos receitas extraordinárias. Vamos continuar batalhando para fazer o maior superávit possível neste ano", disse.

Primário

O ministro avaliou também que a crise está passando. "A partir disso, há condições para fazer um primário maior. Em 2015, será possível fazer algo semelhante a 2011, mantendo as proporções, diferenças e semelhanças. Não faremos mais desonerações e agora economia tem mais competitividade para poder crescer", afirmou.

Ele disse que não é correto dizer que as previsões da Fazenda se frustraram sempre. "Em 2011, fizemos um primário maior. Acrescentamos R$ 10 milhões no segundo semestre. Eu sei que fizemos esforço fiscal e primário maior. Era o primeiro ano do governo Dilma. Sempre, no primeiro ano, é adequado fazer alguns ajustes. Aliás, em 2008 também fizemos", defendeu.

Mantega também salientou que, depois da crise, todos os países do mundo tiveram dificuldade de fazer primário. "A maioria dos países aumentou sua dívida. Em 2013, o Brasil fez o terceiro maior primário do mundo, mesmo ficando abaixo do que prevíamos."

Ele disse também que, quando a economia cresce menos, há mais dificuldade de fazer primário mais robusto. "Por isso, se chama anticíclico. Esta é uma grande diferença da nossa estratégia de política econômica."

Política expansionista

De acordo com Mantega, o governo ajudará o Banco Central a fazer uma política monetária mais expansionista. "Faremos um controle de despesas e, com isso, teremos um primário maior. O governo deve ajudar a criar condições para o BC fazer política mais expansionista", considerou.

Ele salientou que a previsão do governo é a de que a receita geral vá crescer um pouco em relação ao PIB, passando de 25,1% em 2014 para 25,5% no ano que vem. No mesmo período, as despesas passarão de 19,8% para 20,0%. "A receita está crescendo mais que despesa", resumiu. "E isso dá espaço para fiscal maior", continuou.

Mantega disse que o governo está trabalhando com um superávit primário de R$ 114,7 bilhões para 2015, o que corresponde a 2% do PIB. "Está prevista a possibilidade de abatimento do PAC de até 0,5% do PIB. Isso é facultativo. Só se necessário for, vamos fazer abatimento", comentou.

O ministro enfatizou que o governo está trabalhando com estimativas de forma muito antecedente. "E isso é agravado pelo fato de que estamos de período de incertezas da economia mundial e brasileira", disse. Essa é a razão pela qual, segundo ele, todas as instituições e governo fazem suas revisões. "É natural que em dezembro façamos revisão desse parâmetro, pois estaremos mais próximos da realidade. Em janeiro, faremos previsão mais realista."

Mantega reforçou que está previsto no orçamento do ano que vem um esforço para a redução de despesas. "Para obtermos esse primário, é um esforço, é preciso que haja um controle de despesas, de todas", afirmou. Ele ressaltou, porém, que os recursos para os programas sociais e de saúde e educação serão mantidos. "Mas será feito esforço para produzirmos superávit maior para o Banco Central ter trabalho de política monetária mais flexível", enfatizou.

Despesas

Mantega ressaltou ainda que há um controle das duas maiores despesas do governo (previdência e folha de pagamento) e também com a despesa de juros. Ao detalhar essas contas, ele comentou que a Selic ainda está em patamar elevado e que o governo cria condições para fazer com que os juros sejam mais baixos.

"A maior despesa do governo é de previdência, vamos chegar a R$ 436 milhões e temos que ter cuidado com ela. É importante que esteja sob controle", citou. A segunda é a da folha de pagamento, que também continua estável pelas contas do governo. "As duas grandes despesas estão sob controle e nos dão retaguarda boa", considerou.

Já as despesas de juros sempre foram muito elevadas, considerou Mantega. Ele comentou que essa despesa oscila em função da Selic e agora está estável em patamar mais baixo do que o patamar do ano passado porque os juros eram mais elevados.

Salário Mínimo

Mantega disse ainda que a ideia "equivocada do passado" de que aumento do salário mínimo causa desemprego foi negada pelos fatos. "Nos últimos anos, aumentamos salário mínimo, ele atingiu seu melhor poder aquisitivo e o desemprego atingiu seu menor patamar. O aumento do salário até ajudou a reduzir o desemprego", argumentou.

O ajuste do salário mínimo apontado no documento divulgado nesta quinta-feira, 28, segundo Mantega, se deve à correção referente ao PIB e à inflação ante o documento anterior.

O ministro defendeu que o salário mínimo vem tendo aumentos reais há mais de uma década. "Esses aumentos representam um fato muito importante para a população. A massa salarial tem crescido muito", disse, lembrando que o critério de correção do salário mínimo é o PIB de 2013 e a inflação de 2014.

Mantega disse, ainda, que o poder aquisitivo do salário mínimo aumentou e disse que isso pode ser visto em relação à cesta básica. Segundo ele, de 2003 para cá houve aumento de quase 80% no poder aquisitivo em relação à cesta básica.

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