Manobra foi usada para financiar novo programa social do governo Bolsonaro, o Auxílio Brasil (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de outubro de 2021 às 18h22.
Os efeitos da manobra acertada entre governo e Congresso para burlar o teto de gastos devem ser sentidas de forma profunda no ano que vem. O aumento mais forte na taxa de juros prevista agora pelos economistas deve reforçar um quadro que já vinha se desenhando, o da estagflação, que combina crescimento baixo com inflação alta.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, o Brasil não conseguirá fugir desse cenário. "O presidente Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes, e os políticos em Brasília parecem não entender a gravidade, o risco econômico que essa mudança no teto representa", diz.
Segundo ele, mexer na regra que limita os gastos públicos em um momento de tantas incertezas, em que o País convive com uma inflação persistentemente alta - e sobre a qual ninguém sabe ao certo em que nível vai ficar em 2022 -, é catastrófico para a economia.
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, disse que o cenário fiscal foi alterado com a mudança no teto, e que o quadro será de mais deterioração pela frente. "O cenário de juros e câmbio mais elevados vai alterar as expectativas (para a economia)."
Segundo ele, as sinalizações do governo vão na direção de aumento de gastos sem falar em cortar despesas. Os mercados se assustaram e perderam a referência de como vai ser a dinâmica da dívida para a frente.
Shelly Shetty, responsável pelo rating do Brasil na Fitch, disse que os dribles no teto podem prejudicar a dinâmica de crescimento do PIB do Brasil e ainda trazer mais inflação. Para contê-la, será preciso subir os juros, o que eleva os custos de captação do governo.