Economia

Malan critica Delfim por ‘enorme injustiça’ contra os funcionários do BC

Pedro Malan, que já trabalhou no Banco Central, diz que os servidores públicos são exemplares e tratam a instituição como um órgão de Estado

Pedro Malan e Delfim Netto: os dois foram ministros da Fazenda (Fotomontagem/EXAME)

Pedro Malan e Delfim Netto: os dois foram ministros da Fazenda (Fotomontagem/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2011 às 11h28.

São Paulo – O economista Pedro Malan, que foi ministro da Fazenda durante os dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, criticou o ex-ministro Delfim Netto por ter cometido uma “enorme injustiça” contra os funcionários do Banco Central.

Tudo começou com um artigo de Delfim Netto publicado na semana passada no jornal Folha de São Paulo. Nele, Delfim defendeu a decisão inesperada do Banco Central de reduzir a taxa básica de juros em meio ponto percentual, de 12,50% para 12% ao ano.

Em um trecho, Delfim afirmou que era "irresponsável, injusto e arrogante" analistas acusarem o Banco Central de ter se rendido ao governo. “Irresponsável, porque colhida furtivamente de ‘fontes preservadas’ e que talvez seja apenas imaginação conveniente, desmentida, aliás, pela existência de votos divergentes (5 diretores votaram pelo corte meio ponto e dois, pela manutenção dos juros). Injusta, porque pela primeira vez em duas décadas o Banco Central é, efetivamente, um órgão de Estado, com menor influência do setor financeiro privado. E arrogante, porque supõe que nenhuma visão e interpretação da realidade que não seja a sua possa ser adequada.”

Pedro Malan, que foi presidente do Banco Central entre setembro de 1993 e dezembro de 1994, publicou um artigo, neste domingo, no jornal O Estado de São Paulo, no qual escreve: “Desculpe-me o ilustre ex-ministro (Delfim Netto), mas, com todo o respeito, considerei uma enorme injustiça, para dizer o mínimo, a afirmação de que, ‘pela primeira vez em duas décadas, o BC é efetivamente um órgão de Estado...’. Uma enorme injustiça para com servidores públicos exemplares da instituição e para com pessoas decentes e de espírito público que lá trabalharam e não viam a instituição como outra coisa que não um órgão de Estado.”


É importante salientar que, antes dessa crítica, Pedro Malan teceu inúmeros elogios a Delfim Netto. Em um deles, disse que "há um trabalho imperdível do ilustre ex-ministro Delfim Netto intitulado A Agenda Fiscal, no belo livro organizado por Fabio Giambiagi e Octavio de Barros O Brasil Pós-Crise: Agenda para a Próxima Década".

"Esse artigo deveria ser de leitura quase obrigatória para aqueles que, no governo ou fora dele, acham que a resolução do problema dos juros no Brasil depende da 'estatização do Banco Central'", afirmou Malan.

No mesmo artigo, o ministro da Fazenda no governo FHC considerou “problemática, difícil de ser alcançada e a mais controvertida” a aposta do Banco Central de que o governo Dilma terá um maior controle fiscal em 2012 e 2013, o que permitiria a redução dos juros.

“Uma coisa é apoiar a decisão recente do BC. Outra, diferente, é saudar sua pretensa "estatização" (sem a qual a decisão não teria sido tomada?). E outra, ainda mais controvertida, é afirmar desde agora que há uma definida política fiscal de longo prazo do governo Dilma Rousseff. Pode ser que haja. Esperemos que sim. O tempo dirá. Em breve. Mas sem responsável ousadia nessa área não será possível assegurar o desejado declínio, sustentado ao longo do tempo, das taxas de juros na economia brasileira, por mais "estatizado" que seja o Banco Central”, escreveu Malan.

Já Delfim Netto, em seu artigo na Folha, afirmou: “É hora de saudar a "estatização" do BC e a sua decisão. Se ela continuar, como tudo indica, apoiada pela política fiscal de longo prazo do governo Dilma, teremos iniciado a resolução do maior enigma brasileiro: a normalização da teratológica taxa de juros real que nos acompanha.”

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