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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.
Rio de Janeiro - O acesso a medicamentos de uso contínuo para enfermidades crônicas ou recorrentes, como as doenças cardiovasculares e a hipertensão, ainda é uma dificuldade no Brasil, sobretudo para as pessoas mais pobres. O alerta é da diretora da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Andréa Brandão.
De acordo com a médica, que citou dados de Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass), 51,7% dos brasileiros que sofrem dessas doenças interrompem o tratamento por falta de dinheiro.
Andréa Brandão explicou que se um indivíduo ganha um salário mínimo e compromete entre R$ 40 e R$ 50 por mês com medicamentos ou com a manutenção da boa saúde familiar, isso representa em torno de 10% do que ele recebe. "Acaba sendo uma relação que compromete muito o tratamento", disse. Segundo ela, as classes econômicas mais baixas são as mais prejudicadas.
A diretora da SBC disse que o governo vem tentando fazer algo que facilite o acesso da população, por meio dos medicamentos da cesta básica, que estão disponibilizados nas farmácias populares em valores reduzidos. A médica reconheceu que a cesta não inclui todos os medicamentos que os especialistas gostariam. "Você tem aí uma facilidade para acessar alguns medicamentos, mas não são todos e nem sempre atendem aos casos dos pacientes. E nem todos os pacientes conseguem manter o tratamento, por razões diferentes".
Além da falta de dinheiro para acessar os medicamentos, Ela relatou que existem também fatores culturais e sociais que precisam ser revistos. "No caso da hipertensão, há necessidade de que a população seja mais instruída em relação à doença e ao uso continuado do tratamento", indicou a cardiologista.
Para quem sofre de hipertensão (pressão alta), Andréa Brandão afirmou que a principal dificuldade "é manter [o doente] sob tratamento contínuo, para o resto da vida". Existem problemas financeiros para custear o tratamento, que abrange não só a compra de medicamentos, mas também a realização de consultas médicas e o acesso aos exames necessários para uma boa avaliação.
Segundo a especialista, o sistema público de saúde brasileiro é bom, mas não supre tudo que a população necessita. "Ele [Sistema Único de Saúde - SUS] pretende atender a maior parte da população brasileira, mas a gente reconhece que há deficiências".
A diretora da SBC participa na noite de hoje (6) do Simpósio Acesso a Medicamentos e Adesão a Tratamentos. O evento quer chamar a atenção dos médicos e dos hipertensos, principalmente, para que o tratamento seja contínuo, ininterrupto. Para que haja um sucesso realmente. Não adianta a pessoa com pressão alta tomar um remédio um mês e parar porque a pressão ficou normal.
Andréa Brandão salientou que é preciso que as pessoas hipertensas compreendam que o tratamento é de longo prazo e não deve ser interrompido. Destacou que as doenças cardiovasculares são o principal modelo de doença crônica que necessita de tratamento prolongado, além de constituírem a principal causa de morte no Brasil.