A pesquisa reflete preocupações das empresas norte-americanas na China em um momento de incerteza (Reinhard Krause/Reuters)
Reuters
Publicado em 12 de julho de 2018 às 13h51.
Xanguai - A maioria das empresas norte-americanas que operam na China se opõem ao uso de tarifas como arma para resolver seus problemas, que vão desde o acesso ao mercado até a proteção inadequada dos direitos de propriedade intelectual, mostrou uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira.
Quase 69 por cento dos 434 entrevistados na Pesquisa Anual do Clima Empresarial na China, realizada pela Câmara de Comércio Norte-Americana em Xangai, se opuseram às tarifas, enquanto 8,5 por cento apoiaram as tarifas.
A pesquisa, realizada de 10 de abril a 10 de maio, reflete um misto de preocupações e realidades para as empresas norte-americanas na China em um momento de maior incerteza, à medida que a administração Trump aumenta a aposta em sua guerra comercial com Pequim.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusa a China de práticas comerciais desleais que beneficiam suas empresas, enquanto prejudicam as empresas norte-americanas e criam um déficit comercial descomunal para os EUA.
Washington elevou as apostas em sua guerra comercial com a China na terça-feira, propondo tarifas de 10 por cento sobre um valor adicional de 200 bilhões de dólares em importações procedentes das China, de produtos que vão desde alimentos a tabaco, produtos químicos, carvão, aço e alumínio.
"Deve-se dar crédito ao governo Trump por chamar a atenção da China porque há muitos anos tem havido amplas discussões sobre questões de acesso a mercados que afligem companhias estrangeiras na China, e o progresso tem sido muito lento", disse Ken Jarrett, presidente da AmCham em Xangai.
No entanto, extrapolando as conclusões da pesquisa, Jarrett disse que as negociações multilaterais são uma abordagem preferível.
"Agora que o governo dos EUA tem a atenção da China, acho que não há alternativa senão tentar voltar à mesa de negociações", disse o ex-cônsul geral dos Estados Unidos em Xangai.
Embora as empresas dos EUA ainda enfrentem desafios na China, 34 por cento dos entrevistados acreditam que as políticas estatais em relação às empresas estrangeiras melhoraram, ante 28 por cento no ano passado, mostrou a pesquisa.
A parcela dos que acreditam que as políticas pioraram para as empresas estrangeiras caiu para 23 por cento, ante 33 por cento no ano passado. Sessenta por cento disseram que o ambiente regulatório não tem transparência, mesmo percentual de 2017.
A proteção dos direitos de propriedade intelectual e os requisitos de licenciamento foram os dois principais desafios regulatórios.
A administração Trump reclamou que as empresas dos EUA são forçadas a entregar a tecnologias-chave para acessar o mercado chinês.
Vinte e um por cento das empresas na pesquisa disseram ter sentido pressão para transferir tecnologia, com as empresas aeroespaciais e químicas liderando o caminho, com 44 e 41 por cento, respectivamente.
A lei de segurança cibernética da China, que entrou em vigor no ano passado, interrompeu negócios, segundo a pesquisa, enquanto as políticas de VPN dificultaram o trabalho de 56 por cento das empresas.
Embora as tarifas não sejam populares, 42 por cento dos entrevistados favoreceram a reciprocidade de investimentos como uma forma de pressionar por mudanças no acesso ao mercado, ante 40 por cento no ano passado.
No entanto, aqueles que se opõem à reciprocidade aumentaram para 16 por cento, ante 9 por cento no ano passado, e o número de indecisos caiu de 44 para 31 por cento.
"Apesar do relativo otimismo, nossos membros se sentem cautelosos em relação ao futuro", disse a AmCham.
A preocupação com o tratamento preferencial das empresas chinesas e a pressão pelas transferências de tecnologia dos EUA está "estimulando a demanda por reciprocidade nas relações comerciais EUA-China, mesmo que nossos membros geralmente se oponham ao uso de tarifas comerciais retaliatórias".
O maior desafio operacional apontado foi o aumento dos custos, um problema citado por 95 por cento dos entrevistados. Mais de 85 por cento disseram que a competição doméstica é um desafio.
A proporção de empresas que esperam ser lucrativas na China está basicamente estável em cerca de 77 por cento, mostrou a pesquisa, mas as empresas também sinalizaram uma ligeira retração no investimento.
Cinquenta e três por cento das empresas aumentaram o investimento em 2017, abaixo dos 55 por cento do ano anterior, destacando uma tendência de redução do crescimento do investimento desde o pico de 2012, quando 74 por cento dos entrevistados disseram que aumentaram o investimento na China.