Preços: expectativas dos operadores de títulos para o custo de vida cresceram para 6,3 por cento, valor próximo ao mais alto em dois anos (spijker/Creative Commons)
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2014 às 22h38.
São Paulo - Nem mesmo a decisão do Brasil de prolongar os aumentos mais agressivos de taxas de juros do mundo está inspirando confiança na capacidade do país de frear a inflação.
As expectativas dos operadores de títulos para o custo de vida cresceram para 6,3 por cento, valor próximo ao mais alto em dois anos, desde que o Banco Central aumentou os custos de tomar empréstimos em meio ponto porcentual para 10,5 por cento em 15 de janeiro. O incremento foi o dobro do antecipado por economistas em uma pesquisa da Bloomberg.
Apesar de o Banco Central ter ajustado a taxa Selic depois que um relatório publicado cinco dias antes mostrou que a inflação havia acelerado inesperadamente até 5,91 por cento, o maior valor em cinco meses, o Bank of Nova Scotia diz que os investidores estão preocupados de que as políticas de empréstimos da presidente Dilma Rousseff estejam solapando o esforço para conter a alta dos preços. No mês passado, o Brasil manteve a taxa de empréstimo do BNDES no recorde de 5 por cento, sinalizando que Dilma não está disposta a conter a generosidade do governo.
“Há um sistema financeiro de duas camadas”, disse Eduardo Suárez, estrategista do Bank of Nova Scotia para a América Latina, em entrevista por telefone de Toronto. “Existe o sistema atrelado à taxa Selic, que é substancial, mas também há outra economia inteira de financiamento subsidiado”. As secretarias de imprensa do Banco Central e do Ministério da Fazenda não quiseram comentar sobre a crescente brecha entre as taxas de referência e a Selic.
‘Grande esforço’
Até agora, o Brasil elevou a taxa alvo de empréstimos em 3,25 pontos porcentuais desde abril, a maior alta entre 49 bancos centrais de importância acompanhados pela Bloomberg. Os decisores políticos esperam uma inflação de 4,5 por cento, mais ou menos dois pontos porcentuais.
Em uma entrevista a emissoras de rádio de Minas Gerais em 20 de janeiro, Dilma disse que o Brasil está “fazendo um grande esforço para fazer a inflação convergir” para a meta de 4,5 por cento.
A taxa de equilíbrio, baseada na diferença entre os yields dos títulos atrelados à inflação e às notas com taxa fixa e vencimento em 2015, elevou-se dez pontos-base, ou 0,1 ponto porcentual, desde 9 de janeiro, um dia antes de o Brasil divulgar os dados sobre a inflação de dezembro.
O Tesouro emprestou mais de R$ 440 bilhões de reais (US$ 179 bilhões) a bancos públicos incluindo o BNDES desde 2008, levando a dívida bruta do Brasil para 58,5 por cento do PIB em novembro, aproximando-se ao maior valor em dois anos. Os empréstimos do BNDES mais do que dobraram desde 2007, chegando a um estimado de R$ 190 bilhões em 2013.
Reduzindo os empréstimos
“Se o Banco Central estivesse realmente comprometido em controlar a inflação eles dariam sinais mais claros sobre o lado fiscal, que é o maior problema”, disse Siobhan Morden, diretora de estratégia de renda fixa para a América Latina do Jefferies Group LLC, em entrevista por telefone de Nova York. “Houve alguns sinais moderados, mas considerando a inflação – continuamos no teto da faixa de inflação – é preciso ser muito mais enérgico para estabilizar as expectativas de inflação”.
David Beker, estrategista do Bank of America Corp., disse que o plano do Brasil de reduzir os empréstimos do BNDES em 20 por cento neste ano sinaliza que o governo está tomando medidas concretas para fortalecer suas finanças e controlar a inflação.
“No final das contas, a taxa é importante, mas a mensagem é mais importante”, disse Beker, em entrevista por telefone de São Paulo. “O BNDES diz que vai emprestar menos, e se ele emprestar menos será um ajuste efetivo na quantidade” de empréstimos financiados pelo Tesouro.
O Conselho Monetário Nacional disse em 20 de dezembro que vai manter a taxa de referência para empréstimos subsidiados do BNDES em 5 por cento até março. A atual brecha de 5,5 pontos porcentuais com a taxa Selic é a maior desde novembro de 2011.
“Mesmo que eles estejam ajustando o lado monetário, eles estão dando mais facilidades no lado fiscal”, disse Suárez do Bank of Nova Scotia.