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Lula se recusa a ligar para Trump e pretende debater tarifas com Brics: 'Não vou me humilhar'

Declaração do presidente ocorre em meio a atritos entre Brasil e Estados Unidos, após o anúncio de Trump de tarifas de 50% contra produtos brasileiros

Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)

Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 6 de agosto de 2025 às 17h06.

Última atualização em 6 de agosto de 2025 às 18h03.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à agência Reuters, nesta quarta-feira, 6, que só entrará em contato com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando perceber uma real disposição para o diálogo. Até o momento, Lula declarou que não se submeterá a situações "humilhantes".

Lula expressou a intenção de discutir a questão das tarifas comerciais no âmbito do Brics — bloco de países em desenvolvimento ao qual o Brasil pertence, junto à China, Rússia, Índia, entre outros. No entanto, Lula e Trump nunca mantiveram diálogo.

"Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar", disse o presidente.

A declaração acontece em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, após as tarifas comerciais unilaterais de Trump contra produtos brasileiros entrar em vigor.

A tarifa, que entrou em vigor nesta quarta-feira, impõe uma sobretaxa de 50% sobre a entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos, a maior já aplicada pelo governo americano.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), cerca de 35,9% das exportações brasileiras para os EUA serão impactadas por essa medida. Entre os produtos afetados estão civis, petróleo, veículos e peças, fertilizantes e produtos energéticos, além de carne e café.

"O presidente Trump, categoricamente e publicamente, é contra o multilateralismo. Ele prefere o unilateralismo. Prefere negociar país com país, em vez de negociar por meio da OMC [Organização Mundial do Comércio]."

Nesta quarta-feira, o Brasil formalizou uma queixa à OMC, dando início a um processo sobre as tarifas. O governo brasileiro solicitou consultas aos Estados Unidos, uma etapa preliminar antes da abertura de um painel, um mecanismo de julgamento da organização.

Debate com Brics

Países do Brics, como a Índia, também estão sendo alvo das tarifas impostas por Trump. O presidente americano justifica a medida alegando déficits comerciais com essas nações, embora o Brasil, com os EUA, registre um superávit comercial.

"Vou tentar fazer uma discussão com eles [Brics] sobre como é que cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão", disse Lula.

"É importante lembrar que o Brics tem dez países no G20", disse, referindo-se ao grupo que reúne as 20 maiores economias globais.

Lula condena ataque à soberania

Trump justificou as tarifas alegando, entre outros fatores, o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado. Trump chama o processo de "caça às bruxas", embora o processo siga todos os trâmites legais no Brasil.

"Não é uma intromissão pequena, é o presidente da República dos EUA achando que pode ditar regras a um país soberano como o Brasil", criticou Lula.

O presidente brasileiro também afirmou que Trump tenta interferir no Brasil, especialmente em questões relacionadas à regulação das empresas americanas, como os gigantes de tecnologia, as chamadas big techs.

O petista reafirmou que o Brasil, assim como os Estados Unidos, é um país soberano e tem o direito de estabelecer suas próprias regras para as empresas que operam no território nacional.

Lula reiterou que o Brasil não retaliará os Estados Unidos com novas tarifas sobre produtos americanos, apesar das medidas comerciais adotadas por Washington contra as exportações brasileiras.

"Não vou fazer, porque eu não quero ter o mesmo comportamento dele. Quero mostrar que, quando um não quer, dois não brigam. Eu não quero brigar com os EUA", disse Lula.

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