Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 15h38.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2025 às 15h39.
A empresária Luiza Helena Trajano fez um apelo ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo em relação à forma como o BC tem sinalizado aumentos futuros na taxa de juros. A presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza pediu que, "por favor", o Banco Central pare de comunicar as altas da Selic.
"Eu queria pedir para ele, por favor, não comunicar mais que vai ter aumento de juros porque aí já atrapalha tudo desde o começo", afirmou a empresária, nesta sexta-feira, durante evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Galípolo, sentado a poucas cadeiras de distância da empresária, sorriu após receber o pedido.
Na estreia dele no comando do Comitê de Política Monetária, em janeiro deste ano, o Banco Central elevou em 1 ponto percentual a taxa básica de juros, que passou de 12,25% para 13,25%. O Copom também sinalizou uma nova alta na próxima reunião, que acontece em março deste ano, quando a taxa deve atingir 14,25%.
"O varejo é o primeiro que sofre", acrescentou Luiza Helena, que estava sentada no palco do auditório da Fiesp junto com presidente da entidade, Josué Gomes. "As pequenas e médias empresas não aguentam mais sobreviver com isso. Não tem condições. E são elas que geram o emprego", acrescentou ela.
A fala de Luiza Helena foi a última do encontro. Na sequência, Galípolo encerrou sua participação reforçando o compromisso do BC em levar a inflação para a meta e "zelar pela estabilidade da moeda". Ele também ponderou que a autoridade monetária não é capaz de resolver problemas estruturais do país.
Durante o encontro, que aconteceu na sede da Fiesp, em São Paulo, Galípolo ouviu diversas queixas sobre os juros altos e o cenário fiscal. Ao abrir o evento, Guilherme Gerdau, presidente do Conselho de Administração da Gerdau, destacou que o "remédio" do Banco Central estava funcionando, ou seja, o país começa a sentir a perda da tração econômica.
"Precisamos caminhar para um patamar de juros mais próximo do mundo — afirmou Guilherme, que também preside o Instituto de Desenvolvimento (IEDI)." Devemos lembrar a todos que as empresas e famílias tomam crédito com taxas de juros que vão muito além da taxa básica.
Apesar das críticas sobre juros e cenário fiscal, o tom geral foi elogioso à gestão de Galípolo no Banco Central. Durante o encontro, o presidente do BC justificou que, apesar das dificuldades no curto prazo, a alta da Selic foi necessária para evitar pressões inflacionárias mais fortes no futuro e garantir a estabilidade econômica.
Ele enfatizou que o BC deve sempre se comportar de maneira preventiva, mas sem se basear em dados de curto prazo e tendências que se provem incorretas. Galípolo também destacou que calibrar a comunicação tem se tornado um dos pontos de atenção mais relevantes para o Banco Central.
"Hoje o tema da comunicação virou uma ciência própria. Imediatamente depois que sai o comunicado (a ata do Copom), diversas análises minuciosas sobre cada pontuação e palavra são feitas para tentar interpretar o que o BC quis dizer", afirmou o presidente da autoridade monetária.
Em diversos momentos, Galípolo comentou que o Banco Central precisa evitar amplificar volatilidades, especialmente quando os dados disponíveis ainda são incertos. Ele destacou que o BC não deve gerar volatilidade ao reagir de forma precipitada a flutuações de curto prazo, que podem não refletir tendências consistentes.